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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Justiça condena homem por racismo contra gerente de supermercado no DF - Instituto Luiz Gama

O NED (Núcleo de Enfrentamento à Discriminação) do MPDFT (Ministério Público do DF e Territórios) obteve condenação de um brasiliense na 1ª Vara Criminal de Taguatinga pelo crime de injúria racial qualificada. Na decisão, a juíza condenou o homem a dois anos de prisão, substituída por penas restritivas de direitos, fixando o pagamento de R$ 4 mil como reparação dos danos morais causados pela infração.
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De acordo com a denúncia, o condenado foi a um supermercado para comprar fraldas, mas, em razão de uma diferença de preços entre o encarte e o valor encontrado no supermercado, iniciou uma discussão com o gerente. O acusado chamou o gerente de "ladrão, preto safado, gerente de merda", na presença de diversas pessoas.
O promotor de Justiça Thiago Pierobom, coordenador do NED, considerou peculiar a decisão da juíza.
— É o primeiro caso em que o Núcleo consegue que o Poder Judiciário reconheça que a condenação por crime de injúria racial exige a fixação de indenização por danos morais à vitima, conforme previsão expressa do art. 387, IV, do Código de Processo Penal.
No mês passado, o TJDF (Tribunal de Justiça de Brasília) também condenou um psicanalista acusado de ofender uma funcionária de um cinema de um shopping em Brasília, devido à cor da pele da vítima.  A sentença o condenou por “ofensas à honra vítima, consistente na utilização de elementos da raça e da cor”. O valor da indenização é de R$ 50 mil. O réu recorreu da decisão, que vai ser julgada em segunda instância.

Por mudanças revolucionárias que só o povo organizado pode fazer - Afropress

O sistema político eleitoral e partidário, instaurado pela Constituição de 1.988, dá sinais evidentes de exaustão e esgotamento. O modelo de governança iniciado em 1.995 por FHC e continuado por Lula/Dilma, a caminho de mais um mandato, completará 20 anos sem ajustar contas sequer com a herança maldita do regime militar.
A ditadura continua ativa na democracia tutelada que herdamos, fruto de uma transição negociada como se pode ver no veto que os militares continuam a fazer de que sejam punidos os torturadores, os que mataram e desapareceram com os corpos de centenas de brasileiros como fizeram com o ex-deputado Rubens Paiva.
Nessa democracia tutelada são ainda os militares que definem o que pode e o que não pode, como ficaram evidentes recentes vetos do comandante do Exército as conclusões da Comissão Nacional da Verdade.
Nesse tipo de democracia, cidadãos são compulsóriamente obrigados a votar de quatro em quatro anos e ou de dois em dois anos, em candidatos que o mercado avaliza com milhões de reais em campanhas bilionárias, bancadas por empreiteiras e empresas com negócios no Estado.
Tudo se passa como se fosse de verdade, o que é de mentira: o voto do cidadão comum, que comparece às urnas munido de boa fé, não vale o mesmo que o de empresas privadas, que não vão as urnas mas, via de regra, decidem nos bastidores quem deve ou não se eleger.
A regra é essa, o resto é exceção e as exceções apenas confirmam a regra. Estamos diante de uma farsa, portanto, a farsa da democracia representativa à brasileira.
Rico e desigual, sempre
O Brasil é a 7ª economia do mundo, mas continua campeão em desigualdade. Estamos entre os 10 países mais desiguais do mundo. Há uma há uma recusa sistemática dos que mandam no Estado e tem sob controle o aparato repressivo, em fazer o ajuste de contas com a herança não menos maldita dos quase 400 anos de escravidão, que mantém negros (53,1% da população, de acordo com a mais recente PNAD), em situação crônica de desvantagem.
A maioria negra ganha menos, mora mal, não tem as mesmas oportunidades de acesso a Educação, ocupa posições subalternas no mercado de trabalho (vive de bicos, na informalidade) e morre mais cedo, inclusive pelas condições de moradia e do atendimento precário à saúde. Em resumo: vive mal e morre cedo.
Além de muito rico, o Brasil pretende se apresentar ao mundo como um país moderno, mantendo os privilégios dos que que, históricamente, sempre fizeram do Estado seu espaço de negócios e usufruto.
Os ricos continuam cada vez mais ricos. Nunca antes na história desse país, os três principais bancos (Bradesco, Itaú e Santander), tiveram lucros tão fabulosos. Acomodar-se a essa situação, como fizeram os que trocaram o projeto de país por um projeto de poder, é abandonar o sonho generoso pelo qual morreram homens e mulheres em um passado recente, de um país fraterno e solidário em que a riqueza produzida seja distribuída pelos que a produzem, com Justiça e oportunidades iguais para todos.
Jogo de cartas marcadas
O modelo político eleitoral e partidário está em vias de esgotamento porque os Governos em todos os níveis se tornaram balcões de negócios e os partidos meros intermediários.
As multitudinárias manifestações que abalaram o país de norte a sul em junho de 2.013, com reivindicações difusas, mas legítimas e todas ignoradas, são a prova definitiva da falência. O espaço da política – que por definição é o espaço do exercício da cidadania de cidadãos livres – foi ocupado pelo mercado - deixou de ser instrumento de mudança para se tornar um negócio rentável para alguns, prejudicial para todos.
Não por acaso hoje, as figuras mais importantes nas campanhas, depois dos candidatos, são os marqueteiros, pagos a peso de ouro. Tais personagens passaram a substituir o livre debate das idéias e dos programas por maquiagens da realidade apresentadas por técnicas refinadas de propaganda. É tudo um jogo de cena conveniente para a manutenção da farsa, do circo, um jogo perverso de cartas marcadas.
Os principais problemas, as principais demandas, como a necessidade das reformas que vem sendo ignoradas há séculos, se tornaram assunto proibido nessas campanhas de marketing. Não há debate, nem confronto de ideias e posições, muito menos de projetos.
A sensação que qualquer pessoa com um mínimo de consciência, sensibilidade e informação é de que não há diferenças, a não ser pelas roupas dos candidatos ou tiques nervosos com que traem o papel de atores que se adaptam à exposição nos palcos.
Os projetos são rigorosamente os mesmos e não por acaso, aqueles que aparecem à frente das pesquisas – também orientadas pelo mercado de votos e úteis no papel de influenciar os que votam – não podem tocar em determinados assuntos e desviam a discussão para a agenda de costumes – uma agenda marcada pelo conservadorismo.
O resultado é que se vai às urnas para se cumprir tabela, para validar o título eleitoral e evitar as penas e punições a quem deixa de votar, evidência maior de que, sem o voto facultativo, o que deveria ser direito passa a ser dever, sujeito à penas.
Com esse tipo de democracia, contestada em escala planetária, com esse tipo de Estado, apropriado pelos donos do dinheiro e do capital e dividido pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, todos subordinados ao primeiro, de onde saem os recursos para a manutenção dos demais, não é difícil constatar quem são os principais beneficiários.
Os candidatos do mercado e seus coadjuvantes
Os candidatos que disputam a Presidência – Dilma, Marina e Aécio – todos em maior ou menor medida são candidatos do mercado. Basta ver de onde jorram os recursos em milhões que abastecem essas candidaturas.
Os candidatos que os contestam são de dois tipos: 1) ou fazem parte da geléia geral bancada pelo Fundo Partidário para dar a ilusão de uma democracia, que sequer pode manter a transparência do voto, tendo em vista as fragilidades já provadas por especialistas no modelo adotado de urna eletrônica; 2) ou são lutadores honestos que se mantém aferrados a visões sectárias e doutrinaristas da luta por transformações, o que os impede de avançar para a construção de instrumentos verdadeiramente populares e revolucionários para o Brasil. São coadjuvantes – alguns bem toscos – que avalizam o sistema e o modelo e lhe dão alguma sobrevida nessa aparência de democracia do mercado.
A “velha” e a “nova” política: mais do mesmo
A crise continuará. Pior: se agravará porque as soluções passam por reformas profundas que os beneficiários da “velha” e da “nova política” se recusam a promover. Eis a razão para a profunda descrença do povo na política e nos políticos.
Contudo, é - e será sempre - na luta política e popular que está o caminho para romper com o círculo de ferro dos que querem o Estado apenas para satisfação dos seus interesses e manutenção dos seus privilégios.
A luta política e popular nesse momento passa por uma Assembléia Nacional Constituinte, a ser convocada por quem seja eleito, independente e soberana, capaz de fazer com que o povo brasileiro encontre espaço para a construção de um novo pacto político, que possibilite a realização, no âmbito de um Estado Democrático de Direito, das reformas que vem sendo proteladas há séculos.
Uma constituinte que promova as reformas do modelo político com a introdução do voto facultativo, candidaturas autônomas e mandatos revogáveis; nos modelos sindical e partidário; a reforma urbana e agrária, que garanta terras para os trabalhadores do campo e não as torne privilégios da exploração do agronegócio (que gera divisas, e também carência de alimentos e expulsão do homem do campo para engrossar a miséria nos grandes centros urbanos); uma reforma tributária com a taxação das grandes fortunas; uma reforma do Código Penal e do modelo prisional em que 700 mil detentos, na sua quase totalidade, pobres e negros se amontoam em “masmorras medievais”, conforme definição do próprio ministro da Justiça; uma reforma dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, que garantam, participação da cidadania ativa, por meio de referendos e plebiscitos e represente uma esperança de melhoria de vida para todos.
Uma reforma, enfim, que complete a Abolição que aconteceu há 126 anos, mas que nunca foi concluída, e que permita a inclusão dos milhões dos homens e mulheres negros que se mantém às margens como cidadãos de segunda classe.
Sem essas reformas, o Brasil e o povo brasileiro, continuarão reféns desse modelo que produz concentração de renda, racismo, machismo, discriminação, miséria e violência para as maiorias.
Nessa perspectiva, não há outra saída senão reunir todos os homens e mulheres que não abdicaram do sonho nem da utopia, e seguem lutando por transformações revolucionárias no Brasil, os que não aceitam o círculo de giz traçado em nome de uma governabilidade que se tornou um condomínio de fraudadores e aproveitadores das riquezas geridas pelo Estado.
Por isso, a Afropress indica candidatos cujos nomes estarão nas urnas neste domingo (05/10), a partir de uma enquete com seus colunistas e leitores em vários Estados do país.

Solidão que assola, as mulheres em situação de abortamento - População Negra e Saúde

Ao pensar sobre o dia 28 de setembro, Dia pela Descriminalização do Aborto na América Latina e Caribe, um dia em que o movimento feminista e de mulheres intensificam a sua agenda acerca da descriminalização e legalização do aborto e acompanhar as noticias de mortes de mulheres que realizaram aborto clandestino, me debruço a refletir sobre dois pontos , pois como é um fenômeno, o aborto, tem muitos fatores que o cerca.

Antes de tudo gostaria de trazer e relembrar que o aborto é um caso de saúde pública e de direito humano. As mulheres que morrem por aborto, não é a causa em si, mas onde esta inserida de forma precária, insalubre e composta de todas as desigualdades sociais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2004) o aborto inseguro é um procedimento realizado por pessoas sem as devidas habilidades ou em ambientes sem os mínimos padrões médicos, ou ambos.

Bem, retomando os dois pontos, inicialmente gostaria de dialogar sobre o caminho de solidão das mulheres ao percorrer todo o processo até chegar ao aborto, nos dois casos das mulheres que morreram ao realizar um aborto inseguro elas estavam sozinhas, sem os seus parceiros, colocando desta forma as mulheres em maior vulnerabilidade. O artigo de Carneiro, Iriart e Menezes (2012), que vai tratar das mulheres em situação de abortamento nos serviço de saúde e que permanecem sozinhas no serviço, isolada sem nenhuma atenção dos profissionais de saúde, como o próprio titulo do artigo Largada sozinha, mas tudo bem”. Como as mulheres ao realizarem aborto, o serviço de saúde que prestam a atenção a elas são as maternidades as mulheres ficam submetidas a serem julgadas, discriminadas e comparadas com as mulheres que vão parir, ficando elas em ultimo plano. 

É necessário pensar em estratégias de garantir a atenção as mulheres em situação de abortamento que não submetam as mulheres tamanha violência e violação, pois de acordo com o Ministério da Saúde “a atenção humanizada às mulheres em abortamento merece abordagem ética e reflexão sobre os aspectos jurídicos, tendo como princípios norteadores a igualdade, a liberdade e a dignidade da pessoa humana, não se admitindo qualquer discriminação ou restrição ao acesso à assistência à saúde. Esses princípios incorporam o direito à assistência ao abortamento no marco ético e jurídico dos direitos sexuais e reprodutivos afirmados nos planos internacional e nacional de direitos humanos” (Brasil, 2005). Mas o exercício do direito das mulheres passa pelo campo das decisões pessoais dos profissionais de saúde, que cegamente não se preocupam em garantir esse exercício.

E a outro ponto, é sobre o que levam as mulheres a abortar que muitas vezes estar carregado de fatores socioeconômicos e culturais, e nos casos de Jandira Magdalena dos Santos e Elizângela Barbosa  temiam em perder em seus empregos, com isso a realização do aborto tinha como garantia a permanência do trabalho, com isso apresentando  mais um outro cenário sobre o direito e a dificuldade das mulheres em exercer a maternidade, mesmo que desejem, considerando que o mercado de trabalho desconhece a profissional gestante, vejam o artigo“Aborto e machismo no mercado de trabalho” de Jarid Arraes. Sabemos que leis trabalhistas garantem as mulheres o direito a maternidade, mais quais mulheres estão cobertas por esse direito?

A autonomia de ser e estar no mundo são importantes para lutar pela garantia do livre direito de exercer a saúde reprodutiva e principalmente do direito de não morrer.


Liberdade para não morrer e autonomia para escolher, e o direito para garantir


Referencias

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Abortamento Seguro: Orientação Técnica e de Políticas para os Sistemas de Saúde. Campinas, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção Humanizada ao Abortamento: norma técnica. Brasília, 2005.

*Enfermeira, Movimento de Mulheres Negras, Odara Instituto da Mulher Negra, Doutoranda em Saúde Pública/ISC/UFBA.

Sexo e as Negas: quais os regimes de visibilidade possíveis? - Portal Africas

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A insurgência em torno dos regimes de visibilidade em voga
Desde que foi anunciado, o seriado da TV Globo, “Sexo e as negas”, dirigido por Miguel Falabella,  teve repercussão sísmica no tecido social: dos movimentos e organizações de mulheres negras aos setores preocupados em novos regimes de visibilidade de grupos historicamente discriminados, desenhou-se uma trajetória de amplo espectro; o raio de ação das(os) insurgentes espraiou-se em território amplificado, seja esse território real ou virtual. Além das manifestações públicas presenciais,  a ubiquidade e instantaneidade das plataformas digitais também laboraram em favor da ação política organizada. Uma torrente de comentários, artigos e depoimentos vem emergindo nas redes, outorgando ineditismo às formas de reação ao programa: ao modo das(os) enxadristas, que preveem com a máxima antecedência possível seus próprios lances e os da(o) adversária(o), diversas pessoas e grupos anteciparam a contraofensiva ao seriado sem que fosse preciso a exibição do primeiro episódio, no último 16. Pelo que se vê, essa “fortuna crítica” não apresenta mínimo sinal de esgotamento.
Assistiu-se, em primeira mão, ao desfile dos significantes estereotipantes e estigmatizantes que se acoplaram às protagonistas do programa, projetando identificações individuais que fundam as identificações coletivas. A hastag “Sexo e as negas não me representa” ganha força explicativa nesse princípio, considerando que a posição-de-sujeito das protagonistas se define por uma coletividade.

O seriado, a adaptação e a boa intenção do diretor: onde está o racismo?
Segundo Falabella, “Sexo e as negas” foi inspirado na extinta série americana “Sex and  the city”, baseada no livro de mesmo nome, de Candace Bushnell, Scott B. Smith e Michael Crichton. Ambientada na cidade de Nova Iorque, a série versava sobre as relações íntimas de quatro mulheres. Uma comédia de situação que trazia temas relacionados ao lugar e papel da mulher na sociedade. Dono de um coração suburbano, como assim o definiu a poeta Elisa Lucinda, Falabella escolheu parodiar a matriz norte-americana sem oglamour das classes abastadas.
Ao invés de fazer uma série com mulheres da zona sul carioca, o diretor optou por transpor “Sex and the city” para o habitat das pessoas comuns, de “gente como a gente”. Ouvindo a voz do seu coração suburbano, o diretor substituiu mulheres brancas por mulheres negras (o que seria mais apropriado, a meu ver, manter o programa no cenário edulcorado da zona sul, pois a paródia, quando não bem produzida, como é o caso em questão, escorrega para um campo estético e político duvidoso. Aliás, o diretor já demonstrou pouco dom para essa tarefa: que o digam os  programas “Sai de baixo”, “Toma lá, dá cá” e “Pé na cova”). A versão tupiniquim do programa relata a vida de quatro mulheres da comunidade de Cidade Alta, em Cordovil, no Rio de Janeiro: a camareira Zulma (Karin Hils), Tilde (Corina Sabbas), Soraia (Maria Bia) e Lia (Lilian Valeska).
Eis que flagramos a cena fundante, o ato de instituição que recorta campos onde o estereótipo encontra confortável abrigo a partir da posição-de-sujeito conferida a essas quatro mulheres: ao adaptar quase tudo (cenário, lugar, dilemas da vida prática, pertencimento racial), algo permanece sem alteração em “Sexo e as negas”: o lugar narrativo detonador das histórias dessas mulheres emerge da voz de uma pessoa branca. A atriz Claudia Jimenez, na pele de Jesuína (ou vice-versa), de coadjuvante oficial passa a ocupar, na verdade, um papel de protagonista extraoficial, considerando que os relatos emanam dos nós discursivos que ela ata e desata. Soma-se a isso a narração em off, tarefa do próprio Falabella, um homem branco que não sai de cena, que não resiste a conduzir discursivamente o destino narrativo (e real) das “negas”.
A essa altura, podemos inquirir: por que nesse expediente nenhuma alteração, já que quase tudo foi adaptado ao modus vivendi das ditas “mulheres de garra da comunidade”? Poderíamos abreviar a questão com o sintético e pedagógico enunciado: “é o racismo, estúpido!” Mas, como diz o adágio popular, “primeiro encontre, depois procure”, procederemos ao modo de Drummond de Andrade, no poema Áporo, “um inseto cava/ cava sem alarme/ perfurando a terra/ sem achar escape”… Continuamos cavando à procura de escape, de pistas que nos forneçam elementos para avaliarmos  como o racismo se configura no programa em exame. Se, a título de denúncia, dizê-lo racista possui força diamantina, para a compreensão do seu modo de funcionamento tal afirmação não é suficiente.
A propósito, um contra argumento que circulou em demasia nas redes sociais e na imprensa em geral, advindo dos defensores do programa, e mais ainda de Miguel Falabella, é que o diretor não é racista. Disso dá testemunho o fato de ele ser o diretor que mais emprega atrizes e atores negros na emissora global, ter vários amigos negros, possuir uma ligação afetiva com o subúrbio porque de lá proveniente,  e por aí vai… As defesas, que se articularam com a rapidez de um raio, não mostraram-se consistentes para sair do campo dos afetos, dos comportamentos do indivíduo Miguel (sem o sobrenome para marcar a intimidade dos seus apoiadores) e das cenas consideradas um avanço na enunciação imagética de personagens negras (insisto: o avanço de um programa, no que diz respeito aos estereótipos, não se mede pelas eventuais cenas “positivas”, mas nessas posições-de-sujeito).
A cada acusação de racismo que recai sobre o diretor, desfia-se um rosário de benfeitorias que ele empreendeu no território afirmativo de combate à discriminação racial. Em suma, pelas palavras da defesa, e pelos subentendidos que as habitam, tudo isso dá prova inequívoca de que no fundo ele está “do nosso lado” e que a estridência de uma certa militância negra só encontra chave explicativa pelo viés de um desajuste analítico, portanto, de injustiça sem par. Em tempo: se injustiça se corrige com reparações, o que representa a medalha que Falabella receberá da Faculdade Zumbi dos Palmares? (Ressalte-se, ainda, que as(os) amigas(os) que o defenderam são negros(as), em sua maioria: Elisa Lucinda, a atriz Sheron Menezes e sua  mãe compõem a lista).
Os defensores de Falabella não levaram em conta, porém, que “ao falar, nós somos falados”. Deixamos sempre escapar as molduras que nos guiam nas formas de concepção e atuação no mundo. A reação em cascata ao programa, oportuna sem dúvida, não pode ser desqualificada como patrulha sem fundamento. O lugar subalternizado, em termos de trama discursiva, das quatro mulheres negras correspondem “a posições-de-sujeito postas em discurso. “Claro que importa notar aqui que as mídias nos oferecem, o tempo todo, estas posições-de-sujeito assim como os critérios, ou seja, as condições de ocupação”. (Gomes, 2009, 35). Parece ser daí que os significantes estereotipados de “Sexo e as negas” emergem e ganham força simbólica.
Frente a isso, somos provocadas a um duplo desafio. Enfrentar essas “posições-de-sujeito” na trama do seriado exige o esforço de irmos além do binômio racista/não-racista com o qual podemos enquadrar o programa e seu diretor. Aferrar-se apenas a esse julgamento deixa largas margens de indeterminação para o enfrentamento do racismo nas mídias, nos enredam em disposições opostas que se digladiam, porquanto as duas opções são irreconciliáveis para os defensores de “Sexo e as negas” e até mesmo para quem o ataca (um programa estereotipado ou racista não se coaduna com uma pessoa que não seja racista). Mas será?
O teórico camaronense Achille Mbembe, pensador dos estudos pós-coloniais, descreve o racismo como prática da imaginação. Neste caso, todo recurso que coloca o peso no sujeito da ação, no “Fato em si”, nas cenas parciais e fragmentárias que atestaria um protagonismo artificial das personagens negras pode ser visto como uma interdição ao imaginário; advogar, incisivamente, a  favor ou contra Miguel Falabella unicamente (isso não significa dizer que ele não deva ser responsabilizado); destacar o percurso de suas boas intenções significa extrair do Fato seu suplemento imaginário, um ato de censura contra o significante que desloca esse Fato para um mundo pré-organizado por campos que hierarquizam e de onde emana ovisível.  Pôr em relevo essa outra cena, a do imaginário, nos leva ao campo da Política, pensado em seu sentido abrangente, de ser baliza para  a participação e intervenção no mundo. Mas como fazer essa intervenção em um território, como o das mídias, tão complexo do ponto de vista das materialidades significantes que maneja?
Sem sombra de dúvidas, a união entre Política e Imaginário desenha um horizonte em que poderemos construir um solo firme para retrabalharmos ou, mais ainda, implodirmos os significantes vigentes. Tal junção constitui-se num lugar importante para o qual convergem estudos sob a rubrica das políticas de reconhecimento, visto que consegue apontar as estratégias de formação discursiva das mídias e os processos de exclusão que lhe são intrínsecos. Num mundo em que ser é ser visível, tais processos se oferecem a embates políticos, a ações reivindicatórias de extrema urgência. Desse modo, essa intervenção significa entender os meandros das máquinas de produção e circulação dos discursos da atualidade, obrigando-nos, assim, a mapear os significantes que os acompanham.

Televisão e contratos de identificação
A televisão, a máquina mais expressiva de fabulação já inventada até o momento, constitui-se em um agrupamento de relatos que se sucedem diariamente, em um  cenário narrativo onde se inscrevem as possibilidades de homogeneização das expectativas dispersas no tecido social. Com uma grade de programação que se repete diuturnamente, a TV parece confirmar o seu papel de, a cada dia, apresentar inovações. No fluxo da programação global, “Sexo e as negas” seria o novo que se estrutura como seriado.
Porém, sob o núcleo do novo que irrompe na programação televisiva, há algo  que sempre retorna (esse retorno pode se dar em diversas dimensões e aspectos: tanto pode ser a continuidade do novellusdiscursivo dos programas [a telenovela espelha bem essa situação] quanto o ressurgimento de programas e formatos de tempos imemoriais, seja da própria TV ou de outros veículos). Essa repetição e redundância, traço essencial dos enunciados televisivos, tornam explícito que algo insiste nos relatos.
A filosofia e a psicanálise nos ensinam que a repetição guarda um caráter transgressor, suscita sempre o diferente. Sob esse ponto de vista, ao repetir algumas fórmulas, os programas televisivos dão margem para o novo/outro. O caráter transformador da repetição assinalada por Gilles Deleuze nos dá a medida dessa operação: “o eterno retorno não pode significar o retorno do idêntico, pois supõe, ao contrário, um mundo (o da vontade de potência) em que todas as identidades prévias são abolidas e dissolvidas. Voltar é ser, mas apenas o ser do devir”.
Freud descreve o movimento do fort-da (o para lá e para cá do carretel jogado pela criança na ausência da mãe), onde o espírito renovador da repetição se revela. Segundo ele, a ausência da mãe provoca uma situação faltante, para ambos, mãe e filho. O jogo que tem como suposto o retorno do carretel ou da mãe, não retorna com o “mesmo”, trata-se de uma completude imaginária, nunca efetivada e, portanto, impossível de ser devolvida. Uma vez que não se devolve o mesmo, o que emerge dessa situação é “outra coisa”.
Mas por que não conseguimos divisar o “novo”, essa “outra coisa”, de que nos fala a psicanálise e a filosofia, nas narrativas que contam a história vida das quatro mulheres negras -  as ditas protagonistas do seriado? Por que essa repetição nos redireciona ao já-dito ao já-sabido? Por que as personagens, interpretadas por atrizes muito talentosas, foram esvaziadas de sua potência transgressora, visto que poderiam ocupar outras posições-de-sujeito e, assim, tornar plurais as histórias que se contam das mulheres negras nas narrativas ficcionais, donas de sua própria voz?
Ao que tudo indica, a operação que se efetiva  é aquela esboçada por Lacan,  a situação do disco-corrente,  que canta o “discursocorrente”, nos faz falar como papagaios, que gira, mas se engata no mesmo lugar, “pois o que gira está destinado, por seu enunciado mesmo, a evocar o retorno: “(…) ele gira, ele corre, ele gira muito exatamente para nada”.  Trata-se de um repetição que fixa, que represa o movimento do novo.
A noção de contrato, debate recorrente no universo da comunicação, nos provê  ferramentas para fazermos o disco girar sem que ele se engate em restos de significantes herdados pelas marcas da repetição, sem que traga vestígios de traços caídos de signos com data de validade vencida. O contrato diz respeito uma ação comunicativa em que um discurso se instala ou reinstala em categorias facilmente identificáveis. O código precisa alcançar universalidade, ser reconhecido sem grandes obstáculos. Preguiçosamente, esses códigos acomodam-se a estereótipos e estigmas no espaço das mídias. O quadro em que as narrativas verbovisuais se deixam pintar recorta o mundo a partir de certo enquadramento.
Assim, parece que o posicionamento discursivo das protagonistas do seriado em lugares já previamente delimitados e conhecidos encaixa-se no código “facilmente identificável”: mulheres que não são associadas ao lugar de poder (a cena da pulseira em que a colega branca entrega o objeto para uma das personagens, sabendo de antemão que estando com ela estaria  num lugar seguro, visto que ninguém se atreveria a pensar que aquele corpo negro portaria algum objeto de valor; a remissão ao falo do homem negro, sempre evocado pelo tamanho de grandes proporções; o sexo fácil em noites desalentadoras…). Como que tentando brincar com a ordem imaginária, por vezes o programa tenta nos iludir, operando algumas inversões simplistas, o que confere aparente  protagonismo e poder às mulheres negras: o poder do falo parece em alguns momentos transferido para uma das personagens, que escolhe onde quer manter relações sexuais para depois fazer troça do tamanho do órgão sexual do seu parceiro. Por serem assaz simplistas, tais inversões não conseguem instalar outra ordem discursiva.
Insistiriam os defensores de “Sexo e as negas” e de Miguel (permaneço aqui sem citar o sobrenome) na cantilena de que é mais ou menos assim, como o seriado as retratam, que as mulheres negras vivem, que  a Globo orientou-se por pesquisas abalizadas pelas experiências desse grupo (o que não é verdade). A enunciação de tais crenças é um atestado de que o imaginário cria as ilusões necessárias, o que faz parecer, assim, “natural” que o mundo se constitua tendo, por exemplo, a beleza como correlata da brancura, o sucesso como algo sucedâneo da trajetória de mulheres e homens brancos. Isto significa que é do imaginário que se edificam as nossas construções sociais, que se sedimentam as nossas precárias certezas que fazem corresponder imagem projetada e realidade vivida. Mas não nos enganemos: o significante não trabalha por conta própria,  ele dedica-se o tempo todo a apagar os traços de seus passos, a abrir-se, imediatamente, à transparência de um significado, de uma história que é na realidade fabricada por ele, mas que ele aparenta apenas “ilustrar”.
Ora, mesmo que traga cenas “diferenciadas”, numa escala positiva, como querem ver alguns, “Sexo e as negas” não consegue dialogar com o espírito do tempo. A despeito dos dados que ainda apontam a presença majoritária de mulheres negras em espaços subalternizados, inquestionáveis deslocamentos vêm acontecendo nos últimos anos: para além de mulheres lutadoras, que labutam nas posições mais desprestigiadas, adentramos, também com luta e inteligência,  à universidade (é sintomático nenhuma delas fazer universidade, considerando que o o Prouni alargou a entrada dos mais pobres), somos médicas,  adentramos o magistrado brasileiro, marcamos presença nas engenharias, na astronomia. Será que tais deslocamentos visíveis no tecido social não dialogam com os códigos que se apresentam como novo nas narrativas da TV e congêneres? Tais alterações foram tão insignificantes a tal ponto de não conseguirem desengatar o disco que se engata no mesmo lugar? Uma advertência: mesmo que essas mudanças não tivessem ocorrido no plano da vida concreta, ainda assim, a necessidade do disco girar efetivamente converte-se, em um país hierarquizado racialmente, em um imperativo político porque capaz de tirar mulheres negras do aprisionamento provocado pelas ruínas trazidas pela palavra que nomeia, portanto, ordena e acomoda. Trata-se de políticas de representação levadas a cabo até em países onde a população negra é minoritária.
A coisa se complica quando voltamo-nos para os paradigmas em voga, os padrões que guiam as rotinas produtivas da comunicação midiatizada. Inegavelmente, as mídias remodelam seus discursos de acordo com tais paradigmas forjados pela ordem do mercado. Tornou-se moeda corrente se dizer que o “mandato do leitor” (por leitor, entenda-se telespectador, internauta e outras derivações) é o paradigma contemporâneo que orienta o fazer das empresas de comunicação. Quem ousa não ouvir a voz do leitor está fadado ao fracasso. E o leitor, nesse caso, não sou eu, nem você, individualmente, mas coletividades por onde se   insinuam as tendências, mudanças e demandas.
Quer nos parecer que, em se tratando de narrativas sobre e para mulheres negras, a mídia, em geral, despreza solenemente a voz do seu leitorado. E quando falo em desprezo não estou me referindo apenas ao apelo de uma militância institucionalizada (que é uma voz legítima  e que, portanto, deveria ser ouvida), mas também ao leitor coletivo, as mulheres negras do nosso país. Nesse ponto de minha escrita, invade-me o pensamento da escritora indiana, radicada nos Estados Unidos, Gayatri Chakravorty Spivak, emPode o subalterno falar?. Para ela, não está em jogo apenas o poder da fala, mas o poder de ser ouvido: eu só posso falar se eu puder ser ouvida. Lembremos da frase célebre com a qual Lélia Gonzalez,  fundadora do feminismo negro, principia uma de suas apresentações: “Agora o lixo vai falar.  E numa boa…” Ao fazer incômoda afirmação, marca o lugar antecedente de subalterna que no momento mesmo dessa enunciação ela rompe.
Não é leviano inferir que ao produzir um programa como o “Sexo e as negas”, a Globo não ouviu este sujeito coletivo.  Não ouviu, como também não viu. Não combinou com os russos. Lenda ou não, tornou-se corriqueira a afirmação de que a emissora não se arrisca em produções novas sem antes se acercar de todas os aspectos que as envolvem. Procedimento que não foi adotado para o polêmico seriado (a escolha do nome, a centralidade de Claudia Jimenez no início do primeiro episódio [por que as personagens precisam de outras vozes, de Falabella e de Jesuína, para a constituição dos laços que dão liga ao programa? A voz de outrem, seguindo os passos de Spivak é um fantástico sintoma).  Mas por que esse "descuido"  na produção de "Sexo...?
Parece que é porque, para a Globo, ainda não atingimos o patamar de seres que podem ser vistas/ouvidas, a não ser pelos olhos e ouvidos de outrem. Desse modo, de episódio a episódio, o seriado nos aprisiona no lugar da subalternidade, mantendo nas sombras as nossas múltiplas formas de ser e estar no mundo.

[1] Professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), pós-doutoranda em Ciências da Comunicação (USP).

Mauricio de Sousa comenta 'protesto' de criança contra ausência de personagens negros na Turma da Mônica - Extra

Mauricio de Sousa achou a atitude do aluno “criativa e carinhosa”.
Nesta semana, um aluno do 5º ano da Escola Municipal Professora Irene da Silva Oliveira, em Nova Iguaçu, resolveu usar a capa da sua prova bimestral, ilustrada com um desenho da Turma da Mônica, para fazer uma manifestação artística contra a falta de representatividade para as crianças negras. O menino, identificado como Cleidison, pintou todos os personagens com lápis de cor marrom. A situação curiosa foi divulgada pela professora dele, Joice Oliveira Nunes, nas redes sociais e fez muito sucesso, com mais de 1200 compartilhamentos.
'Pintei da minha cor, tá? Cansei desses desenhos diferentes de mim', disse o aluno do 5º ano.
'Pintei da minha cor, tá? Cansei desses desenhos diferentes de mim', disse o aluno do 5º ano. Foto: Reprodução/ Facebook
O EXTRA procurou Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica. Através de sua assessoria de imprensa, o cartunista comentou o caso com exclusividade e elogiou a "saída criativa e carinhosa" do aluno carioca. Confira a declaração de Mauricio na íntegra:
"O menino Cleidison tem razão a partir de sua visão do mundo e do meio.
Por que os personagens das historinhas que ele lê não têm a mesma cor de sua pele?
E corajosamente ele os traz mais para perto de si e dos seus colegas afrodescendentes simplesmente usando lápis de cor.
Saída criativa e carinhosa.
Ele não excluiu os personagens. Ele os trouxe para seu meio.
Sou um dos poucos cartunistas que criou personagens de cor desde o inicio de minha carreira. O Jeremias, que inclusive faz parte de nosso atual show 'Mônica Mundi', junto com Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão, foi criado nos anos 60. No show ele mostra as raízes africanas que compõem nossa nação. Depois vieram protagonistas como Pelezinho, Ronaldinho Gaúcho e Neymar.
Assim como temos a Samira (árabe), Hiro e Neuzinha (japoneses) e tantos outros dos quase 400 que criei nesse universo.
Impossível contar histórias brasileiras sem essa mistura linda de cores e valores.
(Pra mim não há raça branca, negra, amarela... Pra mim existe a raça humana)"

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Presidente da Unegro: Dilma é a melhor opção para o movimento negro

Edson França, presidente da União de Negros pela Igualdade (Unegro), conta porque Dilma Rousseff é a melhor candidata para continuar governando o Brasil a favor do povo brasileiro e especialmente em prol do movimento negro.



quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Racismo no Brasil é “estrutural e institucionalizado - Geledés

To match feature BRAZIL-SLAVERY/
ONU revela estudo sobre a discriminação no país. Campanha para eleições não aborda interesses dos negros.
A Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu que o racismo no Brasil é “estrutural e institucionalizado” e “permeia todas as áreas da vida”, informa o portal UOL.
Num estudo publicado na última sexta feira pela ONU, os especialistas concluem que o “mito da democracia racial” ainda existe na sociedade brasileira e uma parte “nega a existência do racismo”.
O documento surge num momento em que o racismo no Brasil volta a ser tema de discussão. Recentemente a equipa de futebol Grémio de Porto Alegre foi excluída da Taça do Brasil devido ao comportamento racista dos seus adeptos no jogo contra o Santos, no dia 28 de Agosto.
Outro caso é o de uma jovem negra do estado Minas Gerais que publicou no 
Facebook
 uma fotografia em que posa 
com
 o seu namorado branco. A jovem foi vítima de injúrias raciais. Um dos perfis da rede social escreveu: “Onde comprou essa escrava?”. Em seguida: ”Me vende ela”.
A jovem denunciou o caso à polícia, que deve indiciar os autores por crime de injúria racial. A pena pode chegar a três anos de prisão e multa.
O estudo da ONU diz ainda que os negros no Brasil são os que mais são assassinados, têm menor escolaridade, menores salários, maior taxa de desemprego, menor acesso à saúde, morrem mais cedo e têm a menor participação no Produto Interno Bruto. São também a parte mais representada nas prisões e os que ocupam menos postos no governo.
A organização sugere que se “desconstrua a ideologia do branqueamento que continua a afectar as mentalidades de uma porção significativa da sociedade”. Também destaca que “o Brasil não pode mais ser chamado de uma democracia racial e alguns órgãos do Estado são caracterizados por um racismo institucional, nos quais as hierarquias raciais são culturalmente aceitas como normais”.
Os especialistas da ONU estiveram no Brasil entre os dias 4 e 14 de Dezembro do ano passado.

Debates da campanha para as eleições presidenciais não abordam temas de interesses dos negros


Uma análise do Instituto Patrícia Galvão, com base nos dados das agências Ibope e Datafolha, mostra que, mesmo sendo a maioria dos eleitores, as diferenças sentidas pelos negros estão ausentes do debate político na campanha para as eleições presidenciais, que decorrerá a 5 de Outubro.
O estudo, intitulado “Gênero e Raça nas Eleições Presidenciais 2014: A força do voto de mulheres e negros”, indica que os negros representam 55 por cento dos eleitores, enquanto que os brancos são 44 por cento e os amarelos correspondem a um por cento.
A socióloga e especialista em pesquisa de opinião Fátima Pacheco Jordão sublinha a ausência dos temas de interesse da população negra na campanha para as eleições.
“Chama a atenção o distanciamento dos autodeclarados pretos em relação ao programa, que pode ser explicado pelo facto de a questão racial não aparecer com ênfase nas campanhas. A não ser na exibição de alguns modelos negros, a população não se vê representada nos programas”, afirmou.
A socióloga destacou ainda que a população negra brasileira reconhece cada vez mais a sua identidade. “A autodeclaração é uma questão de identidade enquanto cidadão e cidadã”, disse.

Olívia Santana é condecorada com a Medalha Zumbi dos Palmares - Portal Geledés

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Ativista do movimento negro e idealizadora da primeira honraria destinada a personalidades que se destacam na luta contra o Racismo – a Medalha Zumbi dos Palmares -, Olívia Santana provou da emoção de ser condecorada. Ela foi homenageada em sessão solene nesta terça-feira (16/09), como forma de reconhecimento por sua atuação em defesa da igualdade racial e contra o racismo.
Militante histórica do movimento negro e uma das fundadoras da União de Negros pela Igualdade (Unegro), ela, que ocupa a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do PCdoB.
Emocionada, Olívia falou do orgulho de ter sua trajetória política reconhecida, e ser agraciada justamente com a comenda que criou, entregue desde 1999 a diversas personalidades. “Nunca esquecerei cada momento desta homenagem tão especial. Aqui nesta Casa iniciei minha vida política institucional e a Medalha Zumbi é uma honraria carregada de simbolismo, porque refere-se à maior expressão da luta contra a discriminação racial no Brasil”.
Ela classificou o racismo como uma construção perversa, que destrói a autoestima das pessoas. E disparou: “Não podemos contemporizar com o racismo e precisamos enxergar as múltiplas formas de discriminação, de exploração”. Lembrou que a mãe teve oito filhos e enterrou quatro. Exatamente como muitas mulheres que continuam vivendo nas periferias das grandes cidades: “Eu poderia ter reproduzido essa realidade, mas não reproduzi graças a ela”. Olívia deixou claro que “existe sim racismo no Brasil, apesar dos avanços”, e defendeu políticas públicas de combate às desigualdades raciais e de gênero e contra a homofobia.
Para o deputado federal Daniel Almeida, presidente estadual do PCdoB Bahia, este foi um momento muito especial para as mulheres, o Partido e o movimento negro. Ele parabenizou Olívia pela bela trajetória de luta por uma sociedade sem opressão e sem discriminação racial e afirmou que a Negona tem pleno merecimento.
O autor da iniciativa, vereador Moisés Rocha, disse que reconhecer seu trabalho político na luta de combate ao racismo, promoção da igualdade racial e na batalha para garantir aos negros, aos índios, às mulheres, aos homossexuais e todos os cidadãos discriminados é a melhor forma de homenageá-la. Para a entrega da comenda foram convidadas à mesa a mãe de Olívia, Maria José, e a filha Nanny.

Trajetória

Na Câmara Olívia Santana presidiu as comissões de Direitos do Cidadão, da Reparação e de Educação, além de ter assumido a Ouvidoria-geral. Entre os principais projetos de sua iniciativa aprovados pela Câmara, destacou os que geraram as leis de Incentivo à Leitura, do Dia Municipal da África e a de Combate à Intolerância Religiosa.
Em 2005, na condição de secretária municipal de Educação, fez de Salvador a primeira capital a implantar a Lei 10.639, tornando obrigatório nas escolas da rede o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana.

Maioria dos eleitores, negros cobram mais acesso a políticas sociais

Estudante da UFPA é chamada de 'negra suja' nas redes sociais - G1


A estudante Sonia Regina Abreu, do campus da Universidade Federal do Pará de Altamira, relatou ter sofrido ofensas através das redes sociais. Segundo a Polícia Civil, o agressor utilizou um perfil falso para praticar injúria racial e disse para a vítima que, em Altamira, "não há lugar para negros sujos". Ainda segundo a polícia, além do cunho racista, o suspeito ainda teria ameaçado a jovem de 27 anos
com os seguintes dizeres: "neguinha como você a gente estupra e depois queima para não poluir o solo. Lugar de negro é na senzala ou a sete palmos".
De acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil, a vítima procurou a direção da universidade, e um professor decidiu encaminhar a denúncia para a OAB, onde caso está sendo acompanhado pelas comissões de Direitos Humanos e Igualdade Racial. "É a tolerância da sociedade e a impunidade que faz com que os ofensores, os racistas, ajam com mais desenvoltura", critica Jorge Farias, presidente da Comissão de Igualdade Racial.


Sonia foi ameçada de morte na última quinta-feira (12) pelas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)
Sonia foi ameçada de morte na última quinta-feira (12)
pelas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)


Nesta segunda-feira (15), a vítima registrou um boletim de ocorrência na delegacia. Um inquérito foi aberto para investigar a origem das ofensas. Segundo a vítima, apesar da denúncia, o autor dos insultos não se intimidou: ele mandou um e-mail para a jovem falando que usou um computador acessado pela própria Sonia na faculdade para postar as ofensas, e diz que foi "fácil como tirar bala de criança".Ainda no e-mail, o autor diz para a estudante que isso é "só o começo. Vamos limpar Altamira desta peste negra. Nenhum lugar será seguro para negros nesta cidade".
É a tolerância da sociedade e a impunidade que faz com que os ofensores, os racistas, ajam com mais desenvoltura"
Jorge Farias, presidente da comissão de Igualdade Racial da OAB-PA
Sonia disse ao G1 que está assustada com as ameaças. "Estou chocada e horrorizada. Aqui sempre foi tranquilo, tem muita gente de fora. Agora a cidade é outra porque muitas pessoas se mudam pra cá para trabalhar na Usina Belo Monte, então são muitas pessoas, a cidade se tornou uma coisa que a gente não conhece mais. Não sei a origem disso. Não tenho a menor ideia do que tenha motivado isso”, desabafa.
Segundo a advogada Luana Thomaz, que faz parte da Comissão de Direitos Humanos da OAB, o autor destas ofensas precisa ser investigado por incitar a formação de organizações criminosas, como grupos de extermínio. "Isto pode também ter uma organização criminosa envolvida, um grupo de extermínio, uma quadrilha", disse.
A polícia acredita que pode localizar o agressor. "A Polícia Civil dispõe de mecanismos eficazes que, trabalhando em parceria com o poder judiciário e o Ministério Público, chega-se na autoria daquela postagem", disse o delegado Samuelson Igaki. "Nós vamos fazer a diligência de quebra de sigilo, caso seja necessário, a fim de identificar este autor para que ele seja punido pelo crime que cometeu", disse o delegado Rodrigo Leôncio.
Para o Movimento Negro no Pará, o caso é grave e vai além da injúria racial. "Também é crime de racismo porque ele generalizou o seu ódio a toda a população negra do país. O importante para nós, do Movimento Negro, é que o criminoso seja punido".

Vereador sugere que homossexuais sejam 'colocados em uma ilha' - Yahoo Notícias

Divulgação
O vereador Sérgio Nogueira (PSB), da cidade de Dourados (MS), fez discurso inflamado na Câmara local nesta segunda-feira (15) e propôs que os homossexuais fossem colocados todos em uma ilha por 50 anos. As informações são da rádio 94FM Dourados.
"Não podemos passar a ideia de que o anormal é normal. Bota (sic) as pessoas que pensam assim numa ilha por 50 anos. Coloca essas pessoas numa ilha e depois de 50 anos volta para ver; não vai ter mais ninguém”, afirmou ele em seu discurso. Na sequência, Nogueira afirmou não ser homofóbico.
O vereador iniciou seu discurso por conta de um convite para que assistisse palestras contra a homofobia que a Secretaria Municipal de Assistência Social organiza. Ele é presidente da Comissão de Assistência Social da Câmara.
“Perguntaria para qualquer vereador se podendo ser adotado se optaria por ser adotado por uma família de homossexuais. Não sou a favor da homofobia. Quero colocar a população para refletir. Isso é contra os nossos princípios”, concluiu ele, que é pastor evangélico.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

POSSO AJUDAR? - MARISTELA CRUZ

Comemoramos na última segunda-feira o Dia do Cliente. Entretanto, nós negros não temos muito o que comemorar, pois, como clientes, somos muitas vezes invisíveis no comércio. Somos ignorados, ficando muitas vezes esperando que o vendedor venha nos atender, sem antes nos medir de alto a baixo. E ainda, por cima, nos atendem com algumas interrogações. "O que essa pessoa está fazendo aqui?. Acho que não tem nada para ela (ou ele) na nossa loja", duvidando do nosso poder de compra e achando que qualquer coisa para o nosso povo está bom. Não é bem assim. Também somos consumidores, temos poder de compra e exigimos que nos respeitem e nos tratem de forma igualitária no comércio, sabendo que qualquer forma de discriminação é crime. Portanto, comerciantes e lojistas, fiquem atentos na forma pela qual seus clientes estão sendo recebidos em seu estabelecimento. Disque Racismo: 156 - opção 7.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O Sexo “sem as Nega” (*) Oscar Henrique Marques Cardoso

Nem bem teve sua estréia, a minissérie global “O Sexo e as Nega”, escrita por Miguel Falabella se propõe a retratar o cotidiano de mulheres negras, moradoras do subúrbio carioca, que lutam muito por suas vidas. Lutam e se divertem muito. Conforme declarou em entrevista, contraria e muito a polêmica criada pelo Movimento Negro que classifica a minissérie como racista.
Ao longo de nossa história, as mulheres negras sempre tiveram sua imagem degradada. Vale lembrar na história da teledramaturgia o cúmulo que a Rede Globo chegou ao produzir a clássica novela A Escrava Isaura tendo Lucélia Santos no papel principal. Anos depois, já nos anos 2000, a Rede Record faz um remake desta novela, a qual fez sucesso em vários países como produto made in Brasil, apresentando Bianca Rinaldi como protagonista. O incrível nas duas versões foi ter conseguido prevalecer nas personagens o fenotipo caucasiano. Lucélia Santos não tem traços negros, tampoucos mestiços. Bianca Rinaldi tem seu fenotipo europeu mais forte. A emissora disponibilizou para a personagem a adoção de perucas e mexas escuras, tentando fazer com que a escrava se parecesse um pouco morena. Talvez, mais próxima do que se poderia imaginar por uma escrava.
Anos se passaram e Zezé Mota ganha notoriedade como Xica da Silva. Papel que Taís Araújo, jovem estreante fez na novela, cujo texto foi adaptado do cinema e exibida pela Rede Manchete de Televisão. Xica da Silva era uma mulher politicamente incorreta. Xica também era exibida de uma forma eurocentrada, pois, ao usar perucas brancas e um visual completamente europeu, negava a sua negritude. Tanto à época em que viveu, como nos dias atuais,  a ascensão financeira de um negro o obriga a mudar seu figurino e seu estilo de vida. Prosperar significa negar.
Anos passaram e a Rede Globo, a qual projeta nas telas O Sexo e as Negas, lança A Cor do Pecado. Taís Araújo interpreta a primeira protagonista negra em uma novela global. Carrega a cor negra e a etnia negra na simbologia do pecado. Porque ser mulher e ser negra é sim ser da cor do pecado. Pecado carnal, pecado do sexo. Porque no imaginário machista e eurocentrado a imagem da mulher negra é a imagem do sexo. Uma negra jamais pode ser vista como um anjo, mas sim como um demônio. Voltando a falar de história, a negra e o negro deve ser batizado, deve ser catequizado, porque ser negro é ser pagão. Ser negro é trazer o pecado em suas entranhas. Pecado que queima e pecado que diverte.
Agora, vemos novamente a mulher negra, às vésperas de uma eleição presidencial, quando temos uma mulher negra, Marina Silva, concorrendo ao pleito e em meio a uma ascensão da população negra graças a programas sociais dos últimos 10 anos de governo petista, ser lembrada e atachada por uma nova conotação sexual. A tentativa de exacerbar o preconceito e o esteriótipo chega as raias da regionalização. Ou seja, o autor da minissérie fala de um universo carioca, suburbano. Um universo o qual sabemos, para quem gosta de estudar História do Brasil, mais precisamente a partir da Abolição da Escravatura, delimitou as áreas de morros e subúrbios à comunidade negra e mestiça. Porque, para Miguel Falabella, a periferia negra é uma periferia sem cultura. A tentativa de parodiar uma série, no caso Sex in the City, tentou, de forma estereotipada, prestar uma homenagem às mulheres negras, tudo isto na ótica do autor. Uma ótica a qual sabemos que a maior rede de televisão aberta e privada do país gosta de fazer. Um olhar que delimita as pessoas além do limite geográfico. E a geografia do Rio de Janeiro faz isto e muito bem. Aos negros e mestiços sobram a periferia, sobram os morros, sobram as submoradias e os baixos salários.  Sexo e as Nega não retrata a cara do Brasil. Não retrata a realidade regional dos negros. Não fala dos negros do Sul, do Sudeste, de São Paulo, de Minas Gerais, da Bahia, de Goiás, de canto algum.  Delimita o poder de uma rede de comunicação a produzir entretenimento sobre um olhar único, de uma única região da cidade do Rio de Janeiro.
Sexo e as Nega chega às telas sem o compromisso de fazer militância e de trazer ao debate a situação do negro. Da mulher negra que recebe até 70% a menos em relação a um trabalhador branco. Não se dispõe a apresentar a falta da presença da mulher negra no empresariado. Não se debruça a apresentar a luta da mulher negra em dupla ou tripla jornada familiar. Não se propõe a mostrar a vida real das mulheres negras. Se propõe a usar da brincadeira para colocar as mulheres negras no lugar social a qual devem ficar. Ficar na periferia, não se importar em se desenvolver. Mas sim se importar em ser objeto.
Fica a nós, militantes do Movimento Social Negro juntar os cacos e as sobras das consequências futuras que esta minissérie vai trazer para as jovens meninas negras. Como jornalista, conheço a força e o poder que o veículo televisão tem. Já tive oportunidade de fazer televisão e presumo e avalio as consequências futuras que o Sexo e as Nega vão trazer para todos nós. Lutamos por anos a fio para trabalhar junto as mulheres negras a estima e a valorização. Em poucos meses, a televisão se aporta a destruir anos e anos de trabalho. E promove a construção dos estereótipos. Não nos ajuda, dificulta completamente a nossa vida militante.
Como seria melhor O Sexo “sem as Nega”.


*Oscar Henrique Marques Cardoso é jornalista, radialista e escritor. Natural de Porto Alegre, RS, é também secretário executivo da ONG Grupo Multiétnico de Empreendedores Sociais. 

domingo, 14 de setembro de 2014

Tamires, negra e da periferia, é a 1ª mulher no C.A. da Mackenzie - Afropress

É uma revolução”. Assim define Tamires Gomes Sampaio, 20 anos, a primeira mulher negra a chegar a direção do Centro Acadêmico de uma Universidade reconhecida como reduto do conservadorismo paulistano: a Universidade Mackenzie.
Ela ganhou as eleições e tomou posse na 60ª gestão do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade, com integrante de um coletivo de esquerda organizado a partir de 2013 para combater a opressão no campus. Tamiris é bolsista do Programa Universidade para Todos (ProUni), programa de financiamento universitário do Governo Federal e mora em Guainazes, na Zona Leste de S. Paulo.
Tamires disse a repórter Letícia Mori, da Folha, acreditar que o perfil da Mackenzie está mudando por causa do aumento do programa de bolsas. “Por conta do perfil da universidade, quem é conservador tem mais voz. A gente quer que quem for de esquerda, prounista, gay, feminista também tenha chance de discutir”, afirma.
Filha de militante do movimento negro, ela tirou o título de eleitor aos 16 anos, e desde pequena se envolveu com o ativismo. Ela disse que não tem planos para concorrer a cargos eletivos depois que concluir a Universidade: “É muito complicado”, conclui.

Cresce o número de denúncias sobre racismo contra a série "Sexo e as Negas" - UOL Entretenimento

Corina Sabbas, Karin Hils, Maria Bia e Lilian Valeska são as quatro protagonistas do seriado "Sexo e as Negas"
Só aumenta o número de denúncias de racismo recebidas pela ouvidoria da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Seppir) por conta da série "Sexo e as Negas", de Miguel Falabella. A assessoria de imprensa do órgão confirmou ao UOL que até o final da tarde desta sexta-feira (12) já eram 17 acusações. No Ministério Público Federal no Rio de Janeiro  (MPF-RJ) também foi realizada uma queixa contra o programa.
Segundo assessoria de imprensa do MPF-RJ uma senhora fez a denúncia diretamente na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão. A procuradora, Ana Padilha Luciano de Oliveira, já leu a queixa e pediu a instauração de um procedimento preparatório para analisar o seriado a fim de descobrir onde está caracterizado o racismo.  
 
A procuradora ainda não teve acesso ao conteúdo  - "Sexo e as Negas" só estreia na terça-feira (16) - e como foi informada de que a Seppir  pretende encaminhar todas as acusações recebidas na esfera federal nos próximos dias, ela pretende analisar melhor a situação. Caso entenda que há alguma irregularidade ou crime, Ana Padilha pode instaurar um inquérito.  
Anderson Borde/AgNews
Miguel Falabella dançou 
com
 as quatro protagonistas no final da festa de lançamento do seriado no Projac
Na quarta-feira (10), a Seppir  autuou a Rede Globo e solicitou mais informações sobre o conteúdo da trama. O titular do órgão, Carlos Alberto de Souza e Silva Júnior  assumiu que a Ouvidoria da Igualdade Racial vê com estranheza e preocupação qualquer tipo de manifestação que reproduza estereótipos racistas e ainda lembrou que como concessões públicas as emissoras de televisão estão submetidas às leis brasileiras e a regulamentação específica imposta a esses veículos, na qual estão explícitas a proibição e o repúdio ao racismo e à discriminação.

Inspirada na série americana de sucesso em todo mundo "Sex and City", "Sexo e as Negas" tem sofrido com uma campanha na internet de boicote ao programa antes mesmo da estreia. Nos últimos dias, diversas organizações do movimento negro e de mulheresse manifestaram contra o seriado. Em entrevista ao UOL nesta semana, Falabella contou que texto da série foi cortado, mas negou que tenha havido censura. O autor tem usado as redes sociais para rebater as críticas contra o racismo da série.
 
Veja o texto de Miguel Falabella sobre a polêmica envolvendo a série
 
"
Eu
 não gosto de polemizar, porque geralmente estou seguro daquilo que faço, mas às vezes o silêncio pode se voltar contra nós. Está havendo uma polêmica, aparentemente, sobre Sexo e as Negas. Vamos a ela, então! Comecemos com a gênese do programa: Estávamos nós, há alguns anos, numa feijoada, na Cidade Alta de Cordovil. Karin Hils estava comigo. E havia uma negra maravilhosa, montada, curvilínea e muito sexy, que me disse que cada vez que botava cabelo, dormia três dias "no pique-esconde" (eu usei isso em Pé na Cova). Daí, já não me lembro mais porquê, a conversa descambou e acabamos em Sex and the City, porque algumas pessoas da festa eram fãs do programa. Eu disse: "A gente bem que podia fazer um "Sex and the City" aqui na Cidade Alta... "Sexo e as Negas" gritou a negra deslumbrante, substituindo o S do artigo pelo R, como é usual no falar carioca. Todo mundo teve um acesso de riso e eu fiquei com aquilo na cabeça.
Estou nessa profissão há muitos anos. Não consigo confessar quantos. Tenho feito grandes amigos, tenho construído laços de afeto e respeito e costumo estabelecer com aqueles que trabalham comigo, laços de amor. Portanto, dói-me ver a luta de meus colegas negros na nossa profissão. As oportunidades são reduzidas, não trabalham sempre e, sem exercício, não há aprendizado, como sabemos. Pensei que aquela ideia, surgida numa feijoada, na Cidade Alta de Cordovil, pudesse ser um programa que refletisse um pouco a dura vida daquelas pessoas, além de empregar e trazer para o protagonismo mais atores negros. Basicamente, foi essa a ideia e nem achei que iriam aceitar o programa.
Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as negas? As negas, volto a explicar, é uma questão de prosódia. Os bahianos arrastam a língua e dizem meu nego, os cariocas arrastam a língua e devoram os S. Se é o sexo, por que as americanas brancas têm direito ao sexo e as negras não? Que caretice é essa? O problema é porque elas são de comunidade? Alguém pode imaginar Spike Lee dirigindo seus filmes fora do seu universo? Que bobagem é essa? Pois é justamente sobre isso que a série quer falar! Sobre guetos, sobre cotas, sobre mitos! Destrinchá-los na medida do possível! Os mitos e lendas que nos são enfiados goela abaixo a vida toda. Da negra fogosa, do negro de pau grande, das mazelas que os anos de colônia extrativista e escravocrata deixaram crescer entre nós. Como é que saem por aí pedindo boicote ao programa, como os antigos capitães do mato que perseguiam seus irmãos fugidos? O negro mais uma vez volta as costas ao negro. Que espécie de pensamento é esse? Não sei o que é mais assustador. Se o pré-julgamento ou se a falta de humor. Ambos são graves de qualquer maneira. Como é que se tem a pachorra de falar de preconceito, quando pré-julgam e formam imediatamente um conceito rancoroso sobre algo que sequer viram?
Sexo e as Negas não tem nada de preconceito. Fala da luta de quatro mulheres que sonham, que buscam um amor ideal. Elas podiam ser médicas e morar em Ipanema, mas não é esse meu universo na essência, como autor. Não sou Ipanemense. Sou suburbano, cresci com a malandragem nos ouvidos. Portanto, as minhas personagens são camareiras, cozinheiras, indicadoras de mesas, operárias. E desde quando isso diminui alguém? São negras, são pobres, mas cheias de fantasia e de amor. São lúdicas! E sobrevivem graças ao humor. Seres humanos. Reais. Com direito a uma vida digna e muito... Mas MUITO sexo! Vai dizer agora que eu sou racista? Ah! Nega...Dá um tempo... Dito isso, faço como Truman Capote: never complain e never explain! (Nunca reclame e nunca explique)".