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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Racismo no Brasil é “estrutural e institucionalizado - Geledés

To match feature BRAZIL-SLAVERY/
ONU revela estudo sobre a discriminação no país. Campanha para eleições não aborda interesses dos negros.
A Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu que o racismo no Brasil é “estrutural e institucionalizado” e “permeia todas as áreas da vida”, informa o portal UOL.
Num estudo publicado na última sexta feira pela ONU, os especialistas concluem que o “mito da democracia racial” ainda existe na sociedade brasileira e uma parte “nega a existência do racismo”.
O documento surge num momento em que o racismo no Brasil volta a ser tema de discussão. Recentemente a equipa de futebol Grémio de Porto Alegre foi excluída da Taça do Brasil devido ao comportamento racista dos seus adeptos no jogo contra o Santos, no dia 28 de Agosto.
Outro caso é o de uma jovem negra do estado Minas Gerais que publicou no 
Facebook
 uma fotografia em que posa 
com
 o seu namorado branco. A jovem foi vítima de injúrias raciais. Um dos perfis da rede social escreveu: “Onde comprou essa escrava?”. Em seguida: ”Me vende ela”.
A jovem denunciou o caso à polícia, que deve indiciar os autores por crime de injúria racial. A pena pode chegar a três anos de prisão e multa.
O estudo da ONU diz ainda que os negros no Brasil são os que mais são assassinados, têm menor escolaridade, menores salários, maior taxa de desemprego, menor acesso à saúde, morrem mais cedo e têm a menor participação no Produto Interno Bruto. São também a parte mais representada nas prisões e os que ocupam menos postos no governo.
A organização sugere que se “desconstrua a ideologia do branqueamento que continua a afectar as mentalidades de uma porção significativa da sociedade”. Também destaca que “o Brasil não pode mais ser chamado de uma democracia racial e alguns órgãos do Estado são caracterizados por um racismo institucional, nos quais as hierarquias raciais são culturalmente aceitas como normais”.
Os especialistas da ONU estiveram no Brasil entre os dias 4 e 14 de Dezembro do ano passado.

Debates da campanha para as eleições presidenciais não abordam temas de interesses dos negros


Uma análise do Instituto Patrícia Galvão, com base nos dados das agências Ibope e Datafolha, mostra que, mesmo sendo a maioria dos eleitores, as diferenças sentidas pelos negros estão ausentes do debate político na campanha para as eleições presidenciais, que decorrerá a 5 de Outubro.
O estudo, intitulado “Gênero e Raça nas Eleições Presidenciais 2014: A força do voto de mulheres e negros”, indica que os negros representam 55 por cento dos eleitores, enquanto que os brancos são 44 por cento e os amarelos correspondem a um por cento.
A socióloga e especialista em pesquisa de opinião Fátima Pacheco Jordão sublinha a ausência dos temas de interesse da população negra na campanha para as eleições.
“Chama a atenção o distanciamento dos autodeclarados pretos em relação ao programa, que pode ser explicado pelo facto de a questão racial não aparecer com ênfase nas campanhas. A não ser na exibição de alguns modelos negros, a população não se vê representada nos programas”, afirmou.
A socióloga destacou ainda que a população negra brasileira reconhece cada vez mais a sua identidade. “A autodeclaração é uma questão de identidade enquanto cidadão e cidadã”, disse.

Olívia Santana é condecorada com a Medalha Zumbi dos Palmares - Portal Geledés

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Ativista do movimento negro e idealizadora da primeira honraria destinada a personalidades que se destacam na luta contra o Racismo – a Medalha Zumbi dos Palmares -, Olívia Santana provou da emoção de ser condecorada. Ela foi homenageada em sessão solene nesta terça-feira (16/09), como forma de reconhecimento por sua atuação em defesa da igualdade racial e contra o racismo.
Militante histórica do movimento negro e uma das fundadoras da União de Negros pela Igualdade (Unegro), ela, que ocupa a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do PCdoB.
Emocionada, Olívia falou do orgulho de ter sua trajetória política reconhecida, e ser agraciada justamente com a comenda que criou, entregue desde 1999 a diversas personalidades. “Nunca esquecerei cada momento desta homenagem tão especial. Aqui nesta Casa iniciei minha vida política institucional e a Medalha Zumbi é uma honraria carregada de simbolismo, porque refere-se à maior expressão da luta contra a discriminação racial no Brasil”.
Ela classificou o racismo como uma construção perversa, que destrói a autoestima das pessoas. E disparou: “Não podemos contemporizar com o racismo e precisamos enxergar as múltiplas formas de discriminação, de exploração”. Lembrou que a mãe teve oito filhos e enterrou quatro. Exatamente como muitas mulheres que continuam vivendo nas periferias das grandes cidades: “Eu poderia ter reproduzido essa realidade, mas não reproduzi graças a ela”. Olívia deixou claro que “existe sim racismo no Brasil, apesar dos avanços”, e defendeu políticas públicas de combate às desigualdades raciais e de gênero e contra a homofobia.
Para o deputado federal Daniel Almeida, presidente estadual do PCdoB Bahia, este foi um momento muito especial para as mulheres, o Partido e o movimento negro. Ele parabenizou Olívia pela bela trajetória de luta por uma sociedade sem opressão e sem discriminação racial e afirmou que a Negona tem pleno merecimento.
O autor da iniciativa, vereador Moisés Rocha, disse que reconhecer seu trabalho político na luta de combate ao racismo, promoção da igualdade racial e na batalha para garantir aos negros, aos índios, às mulheres, aos homossexuais e todos os cidadãos discriminados é a melhor forma de homenageá-la. Para a entrega da comenda foram convidadas à mesa a mãe de Olívia, Maria José, e a filha Nanny.

Trajetória

Na Câmara Olívia Santana presidiu as comissões de Direitos do Cidadão, da Reparação e de Educação, além de ter assumido a Ouvidoria-geral. Entre os principais projetos de sua iniciativa aprovados pela Câmara, destacou os que geraram as leis de Incentivo à Leitura, do Dia Municipal da África e a de Combate à Intolerância Religiosa.
Em 2005, na condição de secretária municipal de Educação, fez de Salvador a primeira capital a implantar a Lei 10.639, tornando obrigatório nas escolas da rede o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana.

Maioria dos eleitores, negros cobram mais acesso a políticas sociais

Estudante da UFPA é chamada de 'negra suja' nas redes sociais - G1


A estudante Sonia Regina Abreu, do campus da Universidade Federal do Pará de Altamira, relatou ter sofrido ofensas através das redes sociais. Segundo a Polícia Civil, o agressor utilizou um perfil falso para praticar injúria racial e disse para a vítima que, em Altamira, "não há lugar para negros sujos". Ainda segundo a polícia, além do cunho racista, o suspeito ainda teria ameaçado a jovem de 27 anos
com os seguintes dizeres: "neguinha como você a gente estupra e depois queima para não poluir o solo. Lugar de negro é na senzala ou a sete palmos".
De acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil, a vítima procurou a direção da universidade, e um professor decidiu encaminhar a denúncia para a OAB, onde caso está sendo acompanhado pelas comissões de Direitos Humanos e Igualdade Racial. "É a tolerância da sociedade e a impunidade que faz com que os ofensores, os racistas, ajam com mais desenvoltura", critica Jorge Farias, presidente da Comissão de Igualdade Racial.


Sonia foi ameçada de morte na última quinta-feira (12) pelas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)
Sonia foi ameçada de morte na última quinta-feira (12)
pelas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)


Nesta segunda-feira (15), a vítima registrou um boletim de ocorrência na delegacia. Um inquérito foi aberto para investigar a origem das ofensas. Segundo a vítima, apesar da denúncia, o autor dos insultos não se intimidou: ele mandou um e-mail para a jovem falando que usou um computador acessado pela própria Sonia na faculdade para postar as ofensas, e diz que foi "fácil como tirar bala de criança".Ainda no e-mail, o autor diz para a estudante que isso é "só o começo. Vamos limpar Altamira desta peste negra. Nenhum lugar será seguro para negros nesta cidade".
É a tolerância da sociedade e a impunidade que faz com que os ofensores, os racistas, ajam com mais desenvoltura"
Jorge Farias, presidente da comissão de Igualdade Racial da OAB-PA
Sonia disse ao G1 que está assustada com as ameaças. "Estou chocada e horrorizada. Aqui sempre foi tranquilo, tem muita gente de fora. Agora a cidade é outra porque muitas pessoas se mudam pra cá para trabalhar na Usina Belo Monte, então são muitas pessoas, a cidade se tornou uma coisa que a gente não conhece mais. Não sei a origem disso. Não tenho a menor ideia do que tenha motivado isso”, desabafa.
Segundo a advogada Luana Thomaz, que faz parte da Comissão de Direitos Humanos da OAB, o autor destas ofensas precisa ser investigado por incitar a formação de organizações criminosas, como grupos de extermínio. "Isto pode também ter uma organização criminosa envolvida, um grupo de extermínio, uma quadrilha", disse.
A polícia acredita que pode localizar o agressor. "A Polícia Civil dispõe de mecanismos eficazes que, trabalhando em parceria com o poder judiciário e o Ministério Público, chega-se na autoria daquela postagem", disse o delegado Samuelson Igaki. "Nós vamos fazer a diligência de quebra de sigilo, caso seja necessário, a fim de identificar este autor para que ele seja punido pelo crime que cometeu", disse o delegado Rodrigo Leôncio.
Para o Movimento Negro no Pará, o caso é grave e vai além da injúria racial. "Também é crime de racismo porque ele generalizou o seu ódio a toda a população negra do país. O importante para nós, do Movimento Negro, é que o criminoso seja punido".

Vereador sugere que homossexuais sejam 'colocados em uma ilha' - Yahoo Notícias

Divulgação
O vereador Sérgio Nogueira (PSB), da cidade de Dourados (MS), fez discurso inflamado na Câmara local nesta segunda-feira (15) e propôs que os homossexuais fossem colocados todos em uma ilha por 50 anos. As informações são da rádio 94FM Dourados.
"Não podemos passar a ideia de que o anormal é normal. Bota (sic) as pessoas que pensam assim numa ilha por 50 anos. Coloca essas pessoas numa ilha e depois de 50 anos volta para ver; não vai ter mais ninguém”, afirmou ele em seu discurso. Na sequência, Nogueira afirmou não ser homofóbico.
O vereador iniciou seu discurso por conta de um convite para que assistisse palestras contra a homofobia que a Secretaria Municipal de Assistência Social organiza. Ele é presidente da Comissão de Assistência Social da Câmara.
“Perguntaria para qualquer vereador se podendo ser adotado se optaria por ser adotado por uma família de homossexuais. Não sou a favor da homofobia. Quero colocar a população para refletir. Isso é contra os nossos princípios”, concluiu ele, que é pastor evangélico.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

POSSO AJUDAR? - MARISTELA CRUZ

Comemoramos na última segunda-feira o Dia do Cliente. Entretanto, nós negros não temos muito o que comemorar, pois, como clientes, somos muitas vezes invisíveis no comércio. Somos ignorados, ficando muitas vezes esperando que o vendedor venha nos atender, sem antes nos medir de alto a baixo. E ainda, por cima, nos atendem com algumas interrogações. "O que essa pessoa está fazendo aqui?. Acho que não tem nada para ela (ou ele) na nossa loja", duvidando do nosso poder de compra e achando que qualquer coisa para o nosso povo está bom. Não é bem assim. Também somos consumidores, temos poder de compra e exigimos que nos respeitem e nos tratem de forma igualitária no comércio, sabendo que qualquer forma de discriminação é crime. Portanto, comerciantes e lojistas, fiquem atentos na forma pela qual seus clientes estão sendo recebidos em seu estabelecimento. Disque Racismo: 156 - opção 7.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O Sexo “sem as Nega” (*) Oscar Henrique Marques Cardoso

Nem bem teve sua estréia, a minissérie global “O Sexo e as Nega”, escrita por Miguel Falabella se propõe a retratar o cotidiano de mulheres negras, moradoras do subúrbio carioca, que lutam muito por suas vidas. Lutam e se divertem muito. Conforme declarou em entrevista, contraria e muito a polêmica criada pelo Movimento Negro que classifica a minissérie como racista.
Ao longo de nossa história, as mulheres negras sempre tiveram sua imagem degradada. Vale lembrar na história da teledramaturgia o cúmulo que a Rede Globo chegou ao produzir a clássica novela A Escrava Isaura tendo Lucélia Santos no papel principal. Anos depois, já nos anos 2000, a Rede Record faz um remake desta novela, a qual fez sucesso em vários países como produto made in Brasil, apresentando Bianca Rinaldi como protagonista. O incrível nas duas versões foi ter conseguido prevalecer nas personagens o fenotipo caucasiano. Lucélia Santos não tem traços negros, tampoucos mestiços. Bianca Rinaldi tem seu fenotipo europeu mais forte. A emissora disponibilizou para a personagem a adoção de perucas e mexas escuras, tentando fazer com que a escrava se parecesse um pouco morena. Talvez, mais próxima do que se poderia imaginar por uma escrava.
Anos se passaram e Zezé Mota ganha notoriedade como Xica da Silva. Papel que Taís Araújo, jovem estreante fez na novela, cujo texto foi adaptado do cinema e exibida pela Rede Manchete de Televisão. Xica da Silva era uma mulher politicamente incorreta. Xica também era exibida de uma forma eurocentrada, pois, ao usar perucas brancas e um visual completamente europeu, negava a sua negritude. Tanto à época em que viveu, como nos dias atuais,  a ascensão financeira de um negro o obriga a mudar seu figurino e seu estilo de vida. Prosperar significa negar.
Anos passaram e a Rede Globo, a qual projeta nas telas O Sexo e as Negas, lança A Cor do Pecado. Taís Araújo interpreta a primeira protagonista negra em uma novela global. Carrega a cor negra e a etnia negra na simbologia do pecado. Porque ser mulher e ser negra é sim ser da cor do pecado. Pecado carnal, pecado do sexo. Porque no imaginário machista e eurocentrado a imagem da mulher negra é a imagem do sexo. Uma negra jamais pode ser vista como um anjo, mas sim como um demônio. Voltando a falar de história, a negra e o negro deve ser batizado, deve ser catequizado, porque ser negro é ser pagão. Ser negro é trazer o pecado em suas entranhas. Pecado que queima e pecado que diverte.
Agora, vemos novamente a mulher negra, às vésperas de uma eleição presidencial, quando temos uma mulher negra, Marina Silva, concorrendo ao pleito e em meio a uma ascensão da população negra graças a programas sociais dos últimos 10 anos de governo petista, ser lembrada e atachada por uma nova conotação sexual. A tentativa de exacerbar o preconceito e o esteriótipo chega as raias da regionalização. Ou seja, o autor da minissérie fala de um universo carioca, suburbano. Um universo o qual sabemos, para quem gosta de estudar História do Brasil, mais precisamente a partir da Abolição da Escravatura, delimitou as áreas de morros e subúrbios à comunidade negra e mestiça. Porque, para Miguel Falabella, a periferia negra é uma periferia sem cultura. A tentativa de parodiar uma série, no caso Sex in the City, tentou, de forma estereotipada, prestar uma homenagem às mulheres negras, tudo isto na ótica do autor. Uma ótica a qual sabemos que a maior rede de televisão aberta e privada do país gosta de fazer. Um olhar que delimita as pessoas além do limite geográfico. E a geografia do Rio de Janeiro faz isto e muito bem. Aos negros e mestiços sobram a periferia, sobram os morros, sobram as submoradias e os baixos salários.  Sexo e as Nega não retrata a cara do Brasil. Não retrata a realidade regional dos negros. Não fala dos negros do Sul, do Sudeste, de São Paulo, de Minas Gerais, da Bahia, de Goiás, de canto algum.  Delimita o poder de uma rede de comunicação a produzir entretenimento sobre um olhar único, de uma única região da cidade do Rio de Janeiro.
Sexo e as Nega chega às telas sem o compromisso de fazer militância e de trazer ao debate a situação do negro. Da mulher negra que recebe até 70% a menos em relação a um trabalhador branco. Não se dispõe a apresentar a falta da presença da mulher negra no empresariado. Não se debruça a apresentar a luta da mulher negra em dupla ou tripla jornada familiar. Não se propõe a mostrar a vida real das mulheres negras. Se propõe a usar da brincadeira para colocar as mulheres negras no lugar social a qual devem ficar. Ficar na periferia, não se importar em se desenvolver. Mas sim se importar em ser objeto.
Fica a nós, militantes do Movimento Social Negro juntar os cacos e as sobras das consequências futuras que esta minissérie vai trazer para as jovens meninas negras. Como jornalista, conheço a força e o poder que o veículo televisão tem. Já tive oportunidade de fazer televisão e presumo e avalio as consequências futuras que o Sexo e as Nega vão trazer para todos nós. Lutamos por anos a fio para trabalhar junto as mulheres negras a estima e a valorização. Em poucos meses, a televisão se aporta a destruir anos e anos de trabalho. E promove a construção dos estereótipos. Não nos ajuda, dificulta completamente a nossa vida militante.
Como seria melhor O Sexo “sem as Nega”.


*Oscar Henrique Marques Cardoso é jornalista, radialista e escritor. Natural de Porto Alegre, RS, é também secretário executivo da ONG Grupo Multiétnico de Empreendedores Sociais. 

domingo, 14 de setembro de 2014

Tamires, negra e da periferia, é a 1ª mulher no C.A. da Mackenzie - Afropress

É uma revolução”. Assim define Tamires Gomes Sampaio, 20 anos, a primeira mulher negra a chegar a direção do Centro Acadêmico de uma Universidade reconhecida como reduto do conservadorismo paulistano: a Universidade Mackenzie.
Ela ganhou as eleições e tomou posse na 60ª gestão do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade, com integrante de um coletivo de esquerda organizado a partir de 2013 para combater a opressão no campus. Tamiris é bolsista do Programa Universidade para Todos (ProUni), programa de financiamento universitário do Governo Federal e mora em Guainazes, na Zona Leste de S. Paulo.
Tamires disse a repórter Letícia Mori, da Folha, acreditar que o perfil da Mackenzie está mudando por causa do aumento do programa de bolsas. “Por conta do perfil da universidade, quem é conservador tem mais voz. A gente quer que quem for de esquerda, prounista, gay, feminista também tenha chance de discutir”, afirma.
Filha de militante do movimento negro, ela tirou o título de eleitor aos 16 anos, e desde pequena se envolveu com o ativismo. Ela disse que não tem planos para concorrer a cargos eletivos depois que concluir a Universidade: “É muito complicado”, conclui.

Cresce o número de denúncias sobre racismo contra a série "Sexo e as Negas" - UOL Entretenimento

Corina Sabbas, Karin Hils, Maria Bia e Lilian Valeska são as quatro protagonistas do seriado "Sexo e as Negas"
Só aumenta o número de denúncias de racismo recebidas pela ouvidoria da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Seppir) por conta da série "Sexo e as Negas", de Miguel Falabella. A assessoria de imprensa do órgão confirmou ao UOL que até o final da tarde desta sexta-feira (12) já eram 17 acusações. No Ministério Público Federal no Rio de Janeiro  (MPF-RJ) também foi realizada uma queixa contra o programa.
Segundo assessoria de imprensa do MPF-RJ uma senhora fez a denúncia diretamente na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão. A procuradora, Ana Padilha Luciano de Oliveira, já leu a queixa e pediu a instauração de um procedimento preparatório para analisar o seriado a fim de descobrir onde está caracterizado o racismo.  
 
A procuradora ainda não teve acesso ao conteúdo  - "Sexo e as Negas" só estreia na terça-feira (16) - e como foi informada de que a Seppir  pretende encaminhar todas as acusações recebidas na esfera federal nos próximos dias, ela pretende analisar melhor a situação. Caso entenda que há alguma irregularidade ou crime, Ana Padilha pode instaurar um inquérito.  
Anderson Borde/AgNews
Miguel Falabella dançou 
com
 as quatro protagonistas no final da festa de lançamento do seriado no Projac
Na quarta-feira (10), a Seppir  autuou a Rede Globo e solicitou mais informações sobre o conteúdo da trama. O titular do órgão, Carlos Alberto de Souza e Silva Júnior  assumiu que a Ouvidoria da Igualdade Racial vê com estranheza e preocupação qualquer tipo de manifestação que reproduza estereótipos racistas e ainda lembrou que como concessões públicas as emissoras de televisão estão submetidas às leis brasileiras e a regulamentação específica imposta a esses veículos, na qual estão explícitas a proibição e o repúdio ao racismo e à discriminação.

Inspirada na série americana de sucesso em todo mundo "Sex and City", "Sexo e as Negas" tem sofrido com uma campanha na internet de boicote ao programa antes mesmo da estreia. Nos últimos dias, diversas organizações do movimento negro e de mulheresse manifestaram contra o seriado. Em entrevista ao UOL nesta semana, Falabella contou que texto da série foi cortado, mas negou que tenha havido censura. O autor tem usado as redes sociais para rebater as críticas contra o racismo da série.
 
Veja o texto de Miguel Falabella sobre a polêmica envolvendo a série
 
"
Eu
 não gosto de polemizar, porque geralmente estou seguro daquilo que faço, mas às vezes o silêncio pode se voltar contra nós. Está havendo uma polêmica, aparentemente, sobre Sexo e as Negas. Vamos a ela, então! Comecemos com a gênese do programa: Estávamos nós, há alguns anos, numa feijoada, na Cidade Alta de Cordovil. Karin Hils estava comigo. E havia uma negra maravilhosa, montada, curvilínea e muito sexy, que me disse que cada vez que botava cabelo, dormia três dias "no pique-esconde" (eu usei isso em Pé na Cova). Daí, já não me lembro mais porquê, a conversa descambou e acabamos em Sex and the City, porque algumas pessoas da festa eram fãs do programa. Eu disse: "A gente bem que podia fazer um "Sex and the City" aqui na Cidade Alta... "Sexo e as Negas" gritou a negra deslumbrante, substituindo o S do artigo pelo R, como é usual no falar carioca. Todo mundo teve um acesso de riso e eu fiquei com aquilo na cabeça.
Estou nessa profissão há muitos anos. Não consigo confessar quantos. Tenho feito grandes amigos, tenho construído laços de afeto e respeito e costumo estabelecer com aqueles que trabalham comigo, laços de amor. Portanto, dói-me ver a luta de meus colegas negros na nossa profissão. As oportunidades são reduzidas, não trabalham sempre e, sem exercício, não há aprendizado, como sabemos. Pensei que aquela ideia, surgida numa feijoada, na Cidade Alta de Cordovil, pudesse ser um programa que refletisse um pouco a dura vida daquelas pessoas, além de empregar e trazer para o protagonismo mais atores negros. Basicamente, foi essa a ideia e nem achei que iriam aceitar o programa.
Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as negas? As negas, volto a explicar, é uma questão de prosódia. Os bahianos arrastam a língua e dizem meu nego, os cariocas arrastam a língua e devoram os S. Se é o sexo, por que as americanas brancas têm direito ao sexo e as negras não? Que caretice é essa? O problema é porque elas são de comunidade? Alguém pode imaginar Spike Lee dirigindo seus filmes fora do seu universo? Que bobagem é essa? Pois é justamente sobre isso que a série quer falar! Sobre guetos, sobre cotas, sobre mitos! Destrinchá-los na medida do possível! Os mitos e lendas que nos são enfiados goela abaixo a vida toda. Da negra fogosa, do negro de pau grande, das mazelas que os anos de colônia extrativista e escravocrata deixaram crescer entre nós. Como é que saem por aí pedindo boicote ao programa, como os antigos capitães do mato que perseguiam seus irmãos fugidos? O negro mais uma vez volta as costas ao negro. Que espécie de pensamento é esse? Não sei o que é mais assustador. Se o pré-julgamento ou se a falta de humor. Ambos são graves de qualquer maneira. Como é que se tem a pachorra de falar de preconceito, quando pré-julgam e formam imediatamente um conceito rancoroso sobre algo que sequer viram?
Sexo e as Negas não tem nada de preconceito. Fala da luta de quatro mulheres que sonham, que buscam um amor ideal. Elas podiam ser médicas e morar em Ipanema, mas não é esse meu universo na essência, como autor. Não sou Ipanemense. Sou suburbano, cresci com a malandragem nos ouvidos. Portanto, as minhas personagens são camareiras, cozinheiras, indicadoras de mesas, operárias. E desde quando isso diminui alguém? São negras, são pobres, mas cheias de fantasia e de amor. São lúdicas! E sobrevivem graças ao humor. Seres humanos. Reais. Com direito a uma vida digna e muito... Mas MUITO sexo! Vai dizer agora que eu sou racista? Ah! Nega...Dá um tempo... Dito isso, faço como Truman Capote: never complain e never explain! (Nunca reclame e nunca explique)".
Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, é um dos exemplos da falta de saneamento em locais de predominância negra (© Getty Images)

"O Governo Brasileiro reconheceu e reconhece sua responsabilidade e criou a Secretaria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em 2003."
O comentário, enviado à BBC Brasil pela secretaria com status de ministério, responde a um relatório divulgado nesta sexta-feira pela ONU. O órgão mundial afirma que o racismo "permeia todas as áreas da vida" no Brasil.
As Nações Unidas concluem que o país vive um "mito de democracia racial" e que há "racismo institucionalizado" e uma "ideologia de embranquecimento" na sociedade brasileira.
Tanto a ONU quanto o governo, entretanto, também destacam avanços nas políticas para afrodescendentes no Brasil.
Segundo o Planalto, a implementação de cotas raciais na educação e no serviço público e a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra foram medidas importantes no processo de reversão deste problema histórico no país.
A ONU concorda e diz que os principais avanços ocorreram durante o governo do ex-presidente Lula.
As críticas do relatório e o posterior "mea culpa" são resultado da visita de um grupo de trabalho da ONU a Brasília, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, em dezembro do ano passado.
Os especialistas foram recebidos por representantes do governo, do judiciário e de organizações da sociedade civil.
Desigualdade
O texto do relatório informa que "o racismo permeia todas as áreas da vida no país" e que é difícil para os negros discutir o tema, já que "o país vive um mito de democracia racial".
Segundo a ONU, o desemprego é 50% maior entre afrodescendentes e a média salarial dos brancos, por sua vez, é o dobro do salário dos negros.
Enquanto a expectativa de vida entre os negros não passa de 66 anos, a dos brancos é seis anos maior. Mais da metade dos negros não tem saneamento básico adequado no país - a média chega a 3 em cada 10 brancos.
As Nações Unidas reconhecem que o país conta com "diversas instituições para a promoção da igualdade social" e "diversos avanços expressivos foram feitos na legislação sobre a igualdade racial", especialmente nos últimos dez anos.
"Os mecanismos de reprodução das desigualdades raciais se atualizam no Brasil. O reconhecimento do papel estruturante do racismo é o principal fator para que a atual gestão apoie decididamente ações afirmativas para produzir as mudanças que, por longo tempo, foram impedidas de acontecer na sociedade brasileira", disseram os porta-vozes do governo à reportagem da BBC Brasil.
"Esses ganhos ainda são acompanhados pela persistência das desigualdades raciais", afirma o governo federal. Segundo o Planalto, as diferenças entre brancos e negros demandam "um renovado esforço de articulação de iniciativas capazes de neutralizar seus efeitos deletérios sobre as oportunidades de inclusão que se abrem no Brasil de hoje".
"É um processo", diz a pasta.
'Ideologia de embranquecimento'
Entre os resultados da pesquisa, a ONU aponta que a educação é uma das principais áreas de discriminação e uma das principais fontes de desigualdade. "É importante que se desconstrua a ideologia de embranquecimento que continua a afetar uma parcela significante da sociedade", diz a ONU.
Segundo o órgão internacional, "políticos conservadores desvalorizam ações afirmativas, políticas e leis" direcionadas aos afrodescendentes - que têm menos acesso à saúde e educação, menor expectativa de vida, menos cargos públicos e maior presença nas prisões.
O relatório critica as administrações estaduais e municipais, onde "faltam recursos materiais e financeiros para que as atividades possam ser conduzidas".
O órgão ainda destaca o trabalho de redução do racismo institucional em Pernambuco, com trabalhos de sensibilização e capacitação de policiais, e um grupo de trabalho contra o racismo criado pelo Ministério Público pernambucano.
Segundo o órgão internacional, o foco nos policiais é "importante para transformar a cultura de violência sob pretexto de segurança nacional" - três negros morreram em cada quatro homicídios cometidos no Brasil em 2010.
Justiça
A dificuldade de acesso à justiça pela população negra é, para a ONU, um dos pontos-chave da discussão.
Segundo o órgão, como a sociedade ainda nega a existência de praticas racistas, estas questões acabam não chegando no judiciário e, quando chegam, dificilmente são penalizadas. As Nações Unidas indicam ainda que a polícia atua com critérios "baseados na cor da pele" dos cidadãos.
"O papel da polícia é garantir a segurança pública", diz o relatório. "Mas o racismo institucional, a discriminação e a cultura de violência levam a práticas de tortura, chantagem, extorsão e humilhação, em especial contra afro-brasileiros."
Ainda segundo o documento, "o direito à vida sem violência não é garantido pelo Estado".

Pelé diz que Aranha se precipitou ao querer brigar com torcedores racistas - UOL Esportes

Pelé não concordou com a postura de Aranha, que se levantou e protestou contra o racismo que sofreu na Arena Grêmio, há duas semanas, durante um jogo da Copa do Brasil. Ao ser questionado sobre o tema polêmico, o Rei do Futebol citou Daniel Alves e o seu próprio exemplo para discordar do goleiro santista. 
"Vocês se lembram que Daniel Alves descascou uma banana, comeu e bateu escanteio. Ninguém falou mais nada sobre racismo. Se ele tivesse jogado banana no público, até hoje falaríamos disso. Acho que o Aranha se precipitou um pouco ao querer brigar. Se eu fosse parar o jogo ou gritar toda vez que me chamassem de macaco ou crioulo, todo jogo ia parar. O torcedor, dentro da sua [hesitação] animação, animosidade, ele grita", disse Pelé ao Sportv.
O ídolo santista falou durante um evento de um patrocinador no Rio de Janeiro, uma de suas primeiras aparições públicas após a Copa do Mundo. Embora tenha ressaltado que é contra o racismo ("Acho que tem de combater"), Pelé foi no caminho contrário da maioria dos ativistas da causa, que defendem um posicionamento firme contra o preconceito.
"A gente jogava na Bahia, no interior, mas xingavam a gente de tudo quanto é nome. Mas vocês ouviram alguma coisa de racismo nessa época? Não, porque a gente não dava atenção", disse Pelé.
Aranha foi xingado durante o primeiro jogo entre Santos e Grêmio, pela Copa do Brasil, em Porto Alegre. O clube da Vila Belmiro vencia por 2 a 0 quando a torcida gaúcha começou a imitar os sons de um macaco e xingou o goleiro rival. Uma imagem da ESPN Brasil,por exemplo, flagrou uma torcedora gremista, Patrícia Moreira, gritando "macaco" a plenos pulmões.
A cena chocou e teve repercussão imediata. O caso foi ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que excluiu o Grêmio da Copa do Brasil. O clube gaúcho, tentando colaborar com a solução do problema, forneceu imagens do estádio à polícia e identificou alguns torcedores racistas, que tiveram de prestar depoimento e ainda podem responder processo. 

Para criminalista, Justiça para negros é aplicada na forma mais rígida - Afropress

Para o advogado Anivaldo dos Anjos Filho, um dos principais criminalistas negros de S. Paulo, a Justiça brasileira trata o pobre e o negro acusados de crime “com a aplicação da Lei na sua forma mais rígida, sem as interpretações mitigadoras para a correta aplicação da lei penal e sem o olhar humanitário que o juiz deve ter na hora de dosar a pena”.
“Nos casos que comportam interpretações diversas, as mais gravosas são aplicadas nos casos em questão. A verdade é que o instituto da formação de quadrilha aplicado ao criminoso sócioeconômicamente inferiorizado, não é o mesmo aplicado no caso dos “mensaleiros”, afirmou, numa alusão ao julgamento do Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470, que colocou nos réus altos figurões da República.
Advogado desde 2006, graduado pela Faculdade de Direito da Universidade S. Marcos, em S. Paulo, e pós-graduado em Direito Penal Econômico, em curso promovido pela IBCCRIM em parceria 
com
 a Universidade de Coimbra, Anjos Filho é enfático ao afirmar que a morosidade da Justiça brasileira, na prática, configura ausência de Justiça para pobres e negros, que representam pelo menos 2/3 da população.

“A morosidade da Justiça se traduz em terrível injustiça, principalmente para os necessitados que dependem da prestação jurisdicional em “tempo razoável”. A morosidade beneficia somente os "amigos do rei". Nossos presídios estão repletos de presos (negros e pobres), cumprindo prisões preventivas, aguardando julgamento”, acrescenta.
Pela sua experiência como especialista em atuações diretas em Direito da Igualdade Racial e Homoafetiva, entre outras áreas, ele enfatiza que o Estado tem responsabilidade no fenômeno criminoso: “A criminalidade nasce com a ausência do Estado, mas só se organiza com a anuência dele”, defendeu em sua tese de pós-graduação.
Para Anjos Filho, diante desse quadro, só há uma saída para um jovem negro e pobre das periferias das grandes cidades: estudar e trabalhar. “A grande "malandragem" é estudar e trabalhar e não podemos ser mais um no mercado. No nosso caso, nos é exigido sermos os melhores para que o mercado nos permita, sermos comuns”.
Na entrevista à Afropress, o advogado, que dirige o Escritório Rodrigues de Matos, no Centro de S. Paulo, falou ainda da perseguição às religiões de matriz africana, de episódios em que sentiu na pele a discriminação e o racismo como quando compareceu ao enterro do ex-governador Mário Covas, no Palácio dos Bandeirantes, e deu um conselho aos jovens negros, os principais alvos da violência da Polícia e do sistema judicial injusto: “Reaja sem medo. Sempre e procure imediatamente a autoridade mais próxima. Iniciada a reação, não pare mais. Defenda seu direito até as últimas consequências. Os racistas são covardes pela própria natureza”, assinalou.
Confira, na íntegra, a entrevista.
Afropress - O senhor defendeu na sua tese de pós-graduação que o crime ocorre na ausência do Estado, mas só se organiza com seu aval e cumplicidade. Por gentileza, diga-nos como isso se traduz neste momento na sociedade brasileira?
Anivaldo dos Anjos Filho - Esta assertiva retrata uma triste constatação obtida no curso do meu exercício profissional, primeiramente como Engenheiro Civil desde 1981 e, posteriormente, no exercício da Advocacia, há 8  anos. Esta caminhada me revelou duas sub-espécies de Estado, além do Estado Socialmente Ideal: o Estado Criminoso Expresso e o Estado Criminoso Tácito.
Todos sabemos que os núcleos sociais desprovidos de equipamentos públicos mínimos, fundamentais para a vida em sociedade, tais como saneamento básico, escola de qualidade, assistência médica, segurança, funções precípuas do Estado, tornam-se terrenos fecundos para a criminalidade, mas aquela criminalidade dos ataques de inopino em furtos, roubos, latrocínio etc. Tudo resultado da ausência do Estado.
A partir desta “desordem”, começam a surgir nesses núcleos, os armamentos pesados, o tráfico de drogas, a venda de falsa segurança e paz social; e nesse momento surge o Estado, agindo por meio de  agentes corruptos. É o Estado Criminoso Expresso, com exposição midiática, prisões espetaculares de traficantes, armas, drogas, telefones em presídios, tornozeleiras para presos etc. A que custo?
Noutra face, encontramos O Estado Criminoso TácitoSem exposição midiática, desconhecido da maioria da população. Age no silêncio, sob a penumbra dos ditames legais, com proteção e autoridade para superfaturar licitações e contratos públicos, extorquir fornecedores, impor dificuldades para vender facilidades, enfim, o agir deste Estado não encontra limites em sede de usurpação do erário público.
O agir deste Estado é de consequência devastadora  para sociedade. Opera por agentes que juntos formam o que o doutor Ives Gandra Martins denomina de “A Nova Classe Ociosa”, em seu livro "O Estado de Direito e o Direito do Estado".
O poder do ECT transforma o que seria um Estado Democrático de Direito em um Estado totalitário, absoluto, transformando as Casas Legislativas em currais políticos da Administração Pública e transformando o Judiciário em seu subjugado, por força do controle financeiro da Administração. Temos aí um Estado “Total” com poder concentrado no Executivo. 
Enfim, o ECT impede o atuar do Estado Socialmente Ideal, fortalecendo o ECE e este alimentando o ECT, num moto – contínuo cumulativo. Interminável.
Desta forma, com poder absoluto, o Estado organiza o crime à sua maneira. Tudo isso se traduz no abandono explícito das comunidades pobres, na falta de escolas públicas de qualidade, no caos da saúde, na necessidade urgente e cada vez maior de arrecadação de tributos para “não contra prestação” por parte do Estado, na aprovação de projetos de construção que está tornando a vida urbana insuportável, mediante pagamento de propinas aos agentes públicos etc.
O Procurador de Justiça José Viegas revelou numa ocasião que, em 2007 tramitavam ações de improbidade administrativa promovidas pelo MP, que somavam R$ 39 bilhões, sendo que destes, R$ 18 bilhões oriundos da relação contaminada entre o Poder Público e o setor da Construção Civil, lembrando que, em 2007, o orçamento total da Cidade de São Paulo estava em R$ 21 bilhões.     
Afropress -  A crise que vivemos hoje é geral - atinge todos os poderes  e como se manifesta no Judiciário brasileiro?
AAF - O Poder Judiciário depende economicamente do Poder Executivo. Esta dependência obriga os presidentes dos Tribunais a se submeterem negocialmente ao Executivo na defesa dos interesses do Judiciário e esta relação compromete, via de regra, a necessária independência do Poder Judiciário. O Chefe do Executivo tem o poder de contingenciar verbas do orçamento.
Assim, tal submissão se resolveria, no meu entender, se se destinasse, via reforma constitucional, um percentual da arrecadação dos tributos, diretamente ao Judiciário, com se faz  hoje com a Educação, e em outros setores. Desta forma, com o Judiciário administrando seus próprios recursos, romperia essa subserviência que amarra o Poder em questões de políticas partidárias, ficando livre para a distribuição da Justiça, que é causa de sua existência.
Hoje o que vemos são decisões judiciais extremamente políticas (e aqui faço uso da palavra “política” em seu sentido mais deformado), sempre quando os envolvidos são os "amigos do Rei". Decisões que modificam conceitos juridicamente consolidados tais como formação de quadrilha, improbidade administrativa, progressão de regime de cumprimento de pena, celeridade etc...
Mas, quando os envolvidos são os que superlotam os presídios, os “abrigos para crianças e adolescentes”, a sociedade apartada, aí os magistrados mostram a sua força na aplicação da Lei, passando por cima do Princípio da Presunção da Inocência, do devido processo legal, da exceção da prisão cautelar, das Garantias Constitucionais etc.
Afropress - A morosidade da Justiça em relação aos pobres e negros reflete em ausência de Justiça para esses segmentos que representam cerca de 2/3 da população brasileira?
AAF - Evidentemente que sim. A morosidade da Justiça se traduz em terrível injustiça, principalmente para os necessitados que dependem da prestação jurisdicional em “tempo razoável”. Numa breve observação constatamos a morosidade da Justiça e seus efeitos. Todos de alguma forma acompanhamos o julgamento do mensalão e vimos um julgamento com todas as garantias do contraditório e ampla defesa, da presunção de inocência etc. A Progressão do regime de prisão e as decisões quanto ao cumprimento de prisão domiciliar, foram julgados em tempo razoável, o que seria louvável se esta fosse a regra para todos. 
Observe agora um caso de um rapaz de 18 condenado a 3 anos e 9 meses por roubo tentado de veículo. Por lei, como primário e de bons antecedentes, teria direitoao cumprimento da pena em regime aberto. A Juíza da 1ª Vara Criminal de Santo Andre condenou em regime fechado. Questionada por mim em audiência, me disse que era só apelar que o TJ em 6 meses reformaria a decisão.
Apelei e pedi preferência de julgamento por se tratar de réu preso. O Desembargador despachou dizendo que entraria na fila normal de julgamento. E continuamos a impetrar HC, MS, e a Justiça mantém presa uma pessoa que tem direito, garantido em lei, ao regime aberto. Infelizmente não estamos diante de casos isolados. A morosidade beneficia somente os "amigos do Rei"
Afropress - Como advogado negro oriundo das camadas mais humildes da população, como foi sua trajetória pessoal e profissional?
AAF - Sempre me orgulhei das minhas origens. Desde a minha infância. Inicialmente, como todo menino criado nos bairros pobres, mais afastados dos grandes centros, tenho por legado de infância o aprendizado da vida em grupo, praticando o esporte que julgo ser dos mais gregários nos subúrbios, o futebol.
Meus pais sempre zelosos, não descuidavam dos estudos meus e de minha irmã, ambos estudávamos em escola pública, de qualidade.
Assim, não foi difícil prestar o Vestibular unificado da CESGRANRIO e entrar na Escola de Engenharia Civil da Fundação Cel. Rosemar Pimentel, com os estudos pagos pelo Governo. Formado Engenheiro em 23/12/80, fui contratado por uma Empreiteira para trabalhar em Rondônia, depois, Acre, Pernambuco, Espírito Santo, Bahia, São Paulo, Moçambique, São Paulo.
Em 2002, incentivado por minha esposa, advogada desde 1980, entrei no Curso de Direito e neste dia ocorreu um verdadeiro fenômeno na minha vida. A paixão arrebatadora por um Curso na área de Humanas. No meu caso impensável, depois de mais 20 anos de serviços  de Engenharia de Transportes, bem prestados.
Presto serviços para muitas construtoras, por força da amizade que deixei na minha caminhada como engenheiro, mas confesso que me considero ex-engenheiro, me orgulho da Advocacia.
Hoje falo com segurança, sempre que posso que, para nós negros e pobres, a grande “malandragem” é estudar e trabalhar, e não  podemos ser mais um no mercado. No nosso caso, nos é exigido sermos os melhores, para que o “mercado” nos permita sermos comuns. 
Afropress - Como a Justiça brasileira trata o pobre e o negro acusado de crime?
AAF - Com aplicação da lei na sua forma mais rígida. Sem as interpretações mitigadoras para a correta aplicação da Lei penal. Sem o olhar humanitário que o juiz deve ter na hora de dosar a pena. Nos casos que comportam interpretações diversas, as mais gravosas são aplicadas nos casos em questão. A verdade é que o instituto da formação de quadrilha aplicado ao criminoso socioeconomicamente inferiorizado, não é o mesmo aplicado no caso dos “mensaleiros”.
A presunção de inocência, que elidiu as prisões provisórias, postuladas pelo Advogado Geral da União nos julgamentos no STF, não elide, nos crimes praticados pelos “comuns” (negros e pobres). Nossos presídios estão repletos de presos (negros e pobres), cumprindo prisões preventivas, aguardando julgamento. 
Afropress - Na sua opinião, que saídas pode ter um jovem negro e pobre das periferias das grandes cidades?
AAF - A  grande “malandragem” é estudar e trabalhar, e não podemos ser mais um no mercado. No nosso caso, nos é exigido sermos os melhores, para que o “mercado” nos permita sermos comuns. 
Afropress - Como vê no contexto do Brasil de hoje a perseguição sistemática que sofrem as religiões de matriz africana?
AAF - Vejo como a concretização do pensamento medieval de perseguição dessas religiões, que em nome de Cristo, pensam que podem tudo. É a utilização instrumentalizada de pessoas de mente tacanha, que necessitam de contenção, por infringirem a esfera das garantias individuais, consagrada na Constituição.
Afropress -  O senhor já passou ou foi vítima de episódios de discriminação e racismo na sua trajetória pessoal e na sua vida profissional? Como reagiu?
AAF - Não de forma direta que 
eu
 pudesse perceber. Mesmo porque, se isso ocorrer, certamente minha reação não será amistosa, pacífica. Mas já ocorreram casos, em  cujas ocasiões, me foi possível mostrar o grau do entendimento brasileiro na questão racial.

O primeiro caso foi no Velório do então Governador Mário Covas. Minha esposa, branca (de origem pobre, mas branca), e eu nos dirigimos ao Palácio dos Bandeirantes, local do evento. Eu tinha um Alfa Romeu, todo imponente, mas o banco do passageiro da frente estava com problema no sistema de movimentação e o encosto estava travado numa posição muito incômoda. Minha esposa foi então no banco traseiro. Ao chegar às proximidades do Palácio, não havia local para estacionar.
Analisei a cena no interior do meu veículo. Um belo carro, uma branca no banco traseiro de óculos escuros, um “negrinho" de terno no volante, não tive dúvidas. Entrei na fila dos carros das autoridades, sob intenso protesto da minha esposa. E o resultado? Fui estacionar meu carro no interior do Palácio, junto as autoridades, com direito a ajuda dos outros motoristas que lá esperavam. Para quem não acredita,  é assim que somos vistos.
Afropress - Que conselhos pode dar para um jovem negro que sofre discriminação?
AAF - Reaja sem medo. Sempre e procure Imediatamente a autoridade mais próxima. Iniciada a reação, não pare mais. Defenda seu direito até as últimas consequências. Os racistas são covardes pela própria natureza.

sábado, 13 de setembro de 2014

Mesmo maioria, negros "desaparecem" na campanha eleitoral - Afropress

Embora estejam ausentes dos debates e da propaganda eleitoral dos presidenciáveis, os negros brasileiros são a maioria do eleitorado nas eleições de 05 de outubro, segundo análise da socióloga e especialista em pesquisa de opinião Fátima Pacheco Jordão, a partir de dados dos institutos Ibope e Datafolha.
Os dados estão nas análises "Gênero e Raça nas Eleições Presidenciais 2014: A força do voto de mulheres e negros”, realizado pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Data Popular, Ibope e Data Folha.
No caso das mulheres, que correspondem a 52% do eleitorado, elas superam em 6 milhões o número de eleitores homens (74.459.424 mulheres para 68.247.598 homens). Em relação aos negros, eles representam 55% do eleitorado (47% pardos e 8% de pretos). Os brancos representam 44% dos eleitores com direito a voto, enquanto os amarelos correspondem a 1%.
Os eleitores que se autodeclaram negros já passam de 78 milhões (78,5 milhões), contra 62,8 milhões de brancos - 15,7 milhões a mais. Segundo o Censo do IBGE 2010, os negros correspondem a 50,7% da população de 202 milhões.
Candidatos
Quanto ao desempenho dos principais candidatos, a presidente Dilma Rousseff (PT) mantém-se em situação de empate técnico com a presidenciável Marina Silva (PSB) no eleitorado feminino (28% a 25% no voto espontâneo. No voto estimulado Marina tem 35% contra 33% de Dilma. Aécio (PSDB) tem 10% no voto espontâneo e 14% no voto estimulado
Entre os negros, porém, Dilma lidera: 35% contra 25% de Marina no voto espontâneo e 40% a 32% no voto estimulado. Aécio tem 8% no voto espontâneo e 12% no voto estimulado.
Maiorias
Segundo a socióloga “há importantes novidades nesta eleição, que são as 6 milhões de mulheres a mais que homens e a maioria de eleitores autodeclarados negros". Ela acrescenta que o outro destaque é o crescimento da intenção de voto em candidatas mulheres: “Saltou de 60% para 69% essa manifestação de voto, quem em números absolutos dá algo próximo a 13 milhões a mais de pessoas que passaram a declaração intenção de votar numa mulher. É um crescimento considerável para nossa sociedade”, afirma.
A especialista também lembra que 37% do eleitorado feminino ainda não definiu se vai votar em alguém e, em caso positivo, em qual candidata ou candidato. “Os dados mostram como o eleitorado ainda está avaliando e, nesse quadro, as mulheres continuam levando mais tempo para definir seu voto. Assim como nas eleições anteriores, o voto feminino continua sendo um voto mais reflexivo”.
Negros
Com relação ao eleitorado negro, Fátima Pacheco Jordão, afirma que a população negra brasileira cada vez mais se reconhece na sua identidade racial. “A autodeclaração é uma questão de identidade enquanto cidadão e cidadã”.
A socióloga também destacou a ausência dos temas de interesse da população negra na campanha: “Chama a atenção o distanciamento dos autodeclarados pretos em relação ao programa, que pode ser explicado pelo fato de a questão racial não aparecem com ênfase nas campanhas. A não ser na exibição de alguns e algumas modelos negros ou negras, a população não se vê representada nos programas”, afirma.