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quarta-feira, 26 de março de 2014

Faltam ‘africanidades’ no quintal de nossas vidas - Marili Ribeiro

Bahia Moda 2

Eles são muitos e bem diferentes entre si. Saíram originalmente da Baía de Benin e da costa do Congo e Angola, áreas onde o tráfico era especialmente ativo. Ali os vencidos eram vendidos pelos próprios pares, os líderes locais, aos comerciantes de seres humanos de países europeus e americanos. A organização social do continente africano identificava seus cidadãos por famílias, clãs, tribos, etnias, dialetos e credos. Aos derrotados, à escravidão. A enorme diversidade do continente sugere uma sociedade bem mais complexa do que aquela a que chamamos “africana”. Mencionar tal cenário condiz com preocupações de estudos sociológicos, e também explica muita coisa. Explica porque, aos olhos da desinformação generalizada sobre a origem dos povos africanos, os negros ficam todos parecidos. Pior. Permite “confusões” entre ladrão e inocente, como a que aconteceu agora com o comerciante Vinícius Romão, que passou 16 dias na cadeia por erro da mulher que foi assaltada “por um negro”. E, vejam, num país chamado Brasil, onde pardos e negros somam quase 60% da população, segundo o censo por raça e cor de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Touché. Somos uma terra multirracial mas ignorante sobre o fato. A falta de conhecimento sobre a cultura africana é generalizada e prejudicial a todos, sejam brancos, amarelos ou negros. E, o que torna tudo péssimo, alimenta o racismo. Nas coisas mais simples, fica evidente a ausência do cultivo às tradições, aos hábitos e às origens desses povos que vieram para cá. O pouco que se sabe está restrito a guetos. Até mesmo em segmentos fáceis de incorporar ao cotidiano da grande maioria, não se encontram referências. Um bom exemplo é a moda. Brasileiro adora moda, se enfeitar e exibir. Mas são raras as butiques que se dediquem a encher as vitrines com a moda africana. Seria um bom começo. Daí a surpresa com a Katuka Africanidades, uma lojinha especializada em peças vindas da África e situada num local emblemático: a Praça de Sé, ao lado daFundação Pierre Verger no coração de Salvador (BA). Deveriam haver muitas “Katukas” pelo Brasil encantando consumidores e enaltecendo uma cultura que tem tanta confluência com a nossa. Mas são raras as butiques dedicadas ao que vem de Benin, Congo, ou Angola.
A história da loja de artigos africanos começou há pouco mais de cinco anos, quando um paulista ao lado do sócio baiano decidiram criar uma marca que trabalhasse as questões étnica e religiosa tão expressivas na capital baiana. Nasceu assim a Katuka Mercado Negro, dedicada a comercializar tecidos, livros, guias, contas e indumentárias especiais do Candomblé. Como a investida cresceu, surgiu à Katuka Africanidades, essa voltada para moda, arte e a decoração. A Bahia que é o estado de maior população negra no Brasil – 76,6 % da população da Bahia tem origem negra, segundo IBGE – torna natural que ali proliferassem lojas do gênero. Mas não é assim. Mais que isso, quem ainda mais frequenta a loja são os turistas estrangeiros.
Lá mesmo na Bahia assistimos ainda ao triste espetáculo dos cordões de proteção aos foliões, no celebrado circuito Barra-Ondina, composto por negros de todos os matizes, cercando e garantindo “segurança” aos brancos/turistas se divirtam seguindo os trio elétricos sem ser incomodados. Na tentativa de descontruir esse comportamento nefasto, que em São Paulo se repete sem tanta ostentação, já que o Carnaval é menos eletrizante, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad decretou o fim do cordão de isolamento. Os blocos carnavalescos não poderão ter abadás ou cordas que separem o trio elétrico do público. As diretrizes para a folia foram publicadas no Diário Oficial do município com a justificativa de que, por se tratar de ocupação temporária de bens públicos, as manifestações do Carnaval de rua não podem utilizar cordas, correntes, grades e outros meios de “segregação do espaço, que inibam a livre circulação do público”. Uma medida que vai exatamente na contramão da cidade como Salvador, onde, há anos, o Carnaval de rua é segregado por cordas e abadás com aplausos das autoridades. Detalhe: a presidenteDilma Housseff anunciou que irá assistir à festa em Salvador. Talvez lá ela se sinta mais segura.

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